Tríduo Pascal
As NGALC apresentam o Tríduo Pascal da seguinte forma:
18. O sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de todo o ano litúrgico, porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus foi realizada por Cristo especialmente no seu mistério pascal, pelo qual, morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando restaurou a vida. A proeminência que na semana tem o domingo tem-na no ano litúrgico a solenidade da Páscoa.
19. O Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor inicia-se com a Missa da Ceia do Senhor, tem o seu centro na Vigília Pascal e termina nas Vésperas do Domingo da Ressurreição.
Missa Vespertina da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa)
A Missa vespertina da Ceia do Senhor assinala o início do Tríduo, na noite de quinta-feira santa. Note-se que a sexta-feira santa é o primeiro dia do Tríduo; a celebração vespertina da quinta-feira pertence já ao dia litúrgico da sexta-feira. Na tradição judaica, o dia começava ao anoitecer e a liturgia conservou esse modo de contar o tempo nos Domingos e solenidades. O mesmo acontece com a Vigília Pascal: é já a primeira celebração do Domingo de Páscoa. O Tríduo pascal é um verdadeiro tríduo: sexta-feira, sábado e domingo de Páscoa.
Historicamente, esta celebração é a última do Tríduo a aparecer: o primeiro testemunho que temos é do século IV, em Jerusalém. A missa vespertina da ceia do Senhor vai conhecendo progressivamente desenvolvimentos vários. Insere-se a trasladação do Santíssimo Sacramento e a desnudação do altar (este gesto prático, até ao século VII, fazia-se sempre que se celebrava a eucaristia, em qualquer dia; mais tarde, começou a ser interpretado simbolicamente, como figura de Cristo, despojado das suas vestes). Por fim, o gesto do lava-pés. Este gesto era conhecido em Jerusalém desde o século V. Daí irradiou para as outras liturgias, mas muitas conservam-no ainda hoje como gesto a realizar fora da eucaristia. Em Roma, foi inserido dentro da própria celebração eucarística.
A celebração tem carácter festivo. A Quaresma termina quando se inicia esta celebração. Por isso, se canta o hino de Glória e tocam campaínhas e sinos. Não se canta ainda o Aleluia porque este é o canto por excelência da ressurreição e se quer reservar para a Vigília Pascal.
A Missa vespertina da Ceia do Senhor não é nem mais nem menos que uma eucaristia celebrada com toda a dignidade e autenticidade, por se celebrar na noite em que Jesus instituiu a Eucaristia, foi entregue e preso. Contudo, deve ter-se sempre presente que a Eucaristia central, para a qual esta se orienta, é a da Vigília. A importância desta celebração da eucaristia é a sua ligação íntima com o mistério da entrega de Jesus, consumado em sexta-feira santa: esta celebração da quinta-feira santa comemora e antecipa no sacramento eucarístico o gesto de entrega cruento e dramático da Sexta-feira Santa.
“«Nesta Missa [...] a Igreja [...] propõe-se comemorar aquela última Ceia na qual o Senhor Jesus na noite em que ia ser entregue, tendo amado até ao fim os seus que estavam no mundo, ofereceu a Deus Pai o seu Corpo e Sangue sob as espécies do pão e do vinho, os entregou aos Apóstolos para que os tomassem, e lhes mandou, a eles e aos seus sucessores no sacerdócio, que os oferecessem também». Toda a atenção da alma deve estar orientada para os mistérios, que sobretudo nesta Missa são recordados, a saber, a instituição da Eucaristia, a instituição da Ordem sacerdotal e o mandamento do Senhor sobre a caridade fraterna: tudo isto seja explicado na homilia.” (Carta circular n. 44-45: EDREL 3154-3155)
Ora, são estes temas que aparecem quer nas leituras, quer nas orações da missa vespertina da ceia do Senhor. Os textos bíblicos e das orações realçam que Cristo, com a instituição da Eucaristia, nos faz participar na sua Páscoa, na sua Paixão, morte e ressurreição; sublinham a instituição do sacerdócio, sem o qual não há Eucaristia; e sublinham ainda o nexo existente entre a celebração da Eucaristia e a caridade fraterna.
Para o momento da apresentação dos dons, o Missal Romano prevê que se faça procissão dos dons e que nela se incluam ofertas dos fiéis para os pobres. A acompanhar tal procissão, excepcionalmente, o Missal propõe um cântico: o hino Ubi Caritas (ou em Português Onde haja caridade e amor, Onde há caridade verdadeira).
Esta celebração é ainda marcada pela solene trasladação do Santíssimo Sacramento para um lugar conveniente: “Terminada a oração depois da Comunhão, organiza-se a procissão, com círios e turíbulo fumegante, indo à frente o cruciferário, e leva-se o Santíssimo Sacramento, através da igreja, para o lugar da reposição” (Carta Circular n. 54: EDREL 3164). Os fiéis são convidados a ficar em adoração durante algum tempo.
Terminada a celebração, desnuda-se o altar, porque a Eucaristia só voltará a celebrar-se naquele altar na Vigília Pascal.
Celebração da Paixão do Senhor - Sexta-feira Santa
A Sexta-feira Santa é um dia inteiramente centrado na Cruz e na morte de Cristo. É um dia alitúrgico: dia em que não se celebra a Eucaristia e que nunca conheceu celebração eucarística. Aliás, na Sexta-feira Santa e no Sábado Santo não há celebração de nenhum sacramento, com excepção da Penitência e Unção dos doentes: É estritamente proibido celebrar neste dia qualquer sacramento, excepto os da Penitência e da Unção dos doentes (Carta circular 61: EDREL 3171). A principal celebração da Sexta-feira Santa – a celebração da paixão - é, fundamentalmente, uma ampla Liturgia da Palavra, que culmina com a adoração da Cruz e termina com a Comunhão. É importante ter esta estrutura presente, para percebermos o que é mais importante: a leitura da Palavra de Deus, sobretudo da Paixão, e a adoração da Cruz.
Ao contrário do que se diz com frequência, este não é o dia de luto pela morte de Cristo. “Neste dia, em que «Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado», a Igreja, meditando a Paixão do seu Senhor e Esposo e adorando a Cruz, comemora o seu nascimento do lado de Cristo que repousa na Cruz, e intercede pela salvação do mundo inteiro” (Carta circular n. 58: EDREL 3168). Este é o dia da contemplação do amor de Deus pela humanidade e do extremo a que esse mesmo amor levou Jesus Cristo. A morte de Cristo celebra-se sempre na perspectiva da ressurreição: é a morte do Ressuscitado que celebramos, motivo pelo qual falar de luto é inadequado.
“Recomenda-se a celebração comunitária do Ofício de leitura e das Laudes matutinas na Sexta-feira da Paixão do Senhor” (Carta circular n. 40: EDREL 3150). Depois, pelas 3 horas da tarde ou a outra hora conveniente, faz-se a solene celebração da paixão do Senhor.
A entrada faz-se em silêncio. Não há cântico de entrada nem qualquer outra palavra antes da oração colecta: “O sacerdote e os ministros dirigem-se para o altar em silêncio, sem canto. No caso de haver alguma palavra de introdução, deve ser dita antes da entrada dos ministros. O sacerdote e os ministros, feita a devida reverência ao altar, prostram-se; esta prostração, que é um rito próprio deste dia, conserve-se diligentemente” (Carta circular n. 65: EDREL 3175). No entanto, em vez da prostração, pode optar-se pela oração de joelhos, se parecer mais conveniente. Quanto à comunidade, permanece de pé durante a procissão de entrada e ajoelha-se em oração quando o sacerdote se prostra ou ajoelha (cf. Carta circular n. 65: EDREL 3175).
Segue-se a liturgia da Palavra, centrada na leitura da Paixão e morte de Jesus, segundo S. João. Este é o elemento central e fundamental da celebração de Sexta-feira Santa: a proclamação da Palavra de Deus. “A acção litúrgica da Sexta-feira da Paixão do Senhor atinge o seu ponto culminante no relato, segundo São João, da Paixão d’Aquele que, como o Servo do Senhor anunciado no livro de Isaías [1ª leitura], Se tornou realmente o único sacerdote, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai” (OLM 99).
A Oração Universal é o último momento da Liturgia da Palavra propriamente dita. Trata-se da forma mais antiga da oração dos fiéis na liturgia romana, mas só se conservou neste dia. Esta oração faz-se do seguinte modo: “o diácono, se está presente, ou, na falta dele, um ministro leigo, do ambão diz a exortação com que é indicada a intenção da oração. Em seguida, todos oram em silêncio durante uns momentos. Finalmente, o sacerdote, da sua sede, ou, conforme as circunstâncias, do altar, diz, de braços abertos, a oração” (Missal).
Segue-se a veneração da Cruz, que surge como resposta plástica e gestual de toda a assembleia à proclamação da Paixão. Esse gesto não é de adoração de um símbolo de morte, mas adoração de Cristo, vencedor da morte. Neste ponto, a reforma litúrgica introduziu uma mudança: onde antes havia um único modo de apresentação da cruz, descobrindo-a progressivamente, agora figura uma alternativa: fazer a apresentação da cruz já descoberta, partindo do fundo da igreja para o presbitério. “Apresente-se a Cruz à adoração dos fiéis um por um, porque a adoração pessoal da Cruz é um elemento muito importante nesta celebração e só devido a grande afluência do povo se deve usar o rito da adoração feita simultaneamente por todos. A Cruz exposta à adoração deve ser uma só, tal como o requer a verdade do sinal” (Carta circular n. 69: EDREL 3179). Durante a adoração, cantam-se os impropérios, hinos ou outros cantos apropriados. Estes cantos surgiram, na liturgia romana, a partir do século VIII e conservaram-se até à actualidade.
O rito da comunhão, neste dia, deverá ser muito simples e discreto. O altar está despido e só neste momento é coberto com a toalha. O Missal Romano diz que se pode cantar um cântico que acompanhe a Comunhão dos fiéis. Mas pode também optar-se pelo silêncio.
Não há cântico final: tal como a entrada, a saída é também em silêncio.
Sábado Santo
O sábado santo, tal como a sexta-feira santa, é um dia dito “alitúrgico”, isto é, sem celebração da Eucaristia ou de outros sacramentos: Neste dia a Igreja abstém-se absoluta-mente do sacrifício da Missa. A sagrada Comunhão só pode ser dada como Viático. Não é permitida a celebração do matrimónio nem dos outros sacramentos, excepto os da Penitência e da Unção dos doentes. (Carta circular n. 75: EDREL 3185). As várias horas da oração da Igreja convidam a contemplar o repouso de Cristo no sepulcro, na expectativa da celebração da sua ressurreição. Recomenda-se muito a celebração do Ofício de leitura e das Laudes matutinas com a participação do povo. Onde isso não for possível, prepare-se uma celebração da palavra de Deus ou um exercício de piedade adequado ao mistério deste dia (Carta circular n. 73: EDREL 3183).
Este é o dia do “grande silêncio”. A leitura patrística do Ofício de Leitura do Sábado Santo começa assim: “Um grande silêncio reina hoje sobre a terra; um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei dorme; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há século”. O que mais chama a atenção é precisamente o aparente “vazio” deste dia: o silêncio dos sinos, o silêncio dos cânticos, os altares nus, os sacrários abertos e vazios, a ausência de celebrações... “No Sábado Santo, a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando na sua Paixão e Morte, e na sua descida aos infernos, e esperando na oração e no jejum a sua Ressurreição” (Carta circular n. 73: EDREL 3183).
A Igreja vive o silêncio do Sábado Santo, preparando-se assim para a festiva celebração da Vigília Pascal, da ressurreição do Senhor.
Domingo da Páscoa - Vigília Pascal
A Vigília Pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou, é considerada como “a mãe de todas as santas vigílias”, na qual a Igreja espera em vigília a ressurreição de Cristo e a celebra nos sacramentos. Por conseguinte, toda a celebração desta sagrada Vigília deve fazer-se durante a noite, de modo que ou comece depois do anoitecer ou termine antes da aurora do domingo (NGALC 21).
Esta é a noite mais importante de todo o Ano Litúrgico. O símbolo da luz, a Palavra, a água baptismal e o pão e o vinho eucarísticos, anunciados na Quaresma, alcançam a sua realização nesta noite pascal. Não foi por acaso que a renovação litúrgica, mesmo antes do Concílio, começou precisamente com a reforma e renovação da Vigília Pascal, que estava muito descaracterizada. Actualmente, a estrutura da celebração, muito simplificada e expurgada de elementos estranhos, consta de quatro grandes momentos: - Liturgia da Luz; - Liturgia da Palavra; - Liturgia Baptismal; - Liturgia Eucarística.
Todos estes momentos são importantes, mas nem todos têm a mesma importância. É fundamental que a Vigília decorra em crescendo, orientando-se toda a celebração para o ponto máximo: a Liturgia Eucarística. Deverá ser na Liturgia Eucarística, ponto alto da celebração, que a celebração permitirá a explosão jubilosa de alegria pascal.
Historicamente, a Vigília Pascal foi a primeira celebração do Tríduo a ser organizada pela comunidade cristã, como uma noite de vigilância, em oração e escuta da Palavra, concluindo com a celebração da Eucaristia. Nos primeiros séculos, esta Vigília era composta por três momentos principais: uma abundante liturgia da Palavra, a liturgia baptismal e a liturgia eucarística. A estes elementos fundamentais acrescentaram-se, posteriormente: a bênção do lume ou fogo e a procissão com o Círio e o canto do laus cerei.
A celebração desta Vigília sofreu, ao longo dos séculos, uma clara decadência. Basta recordar que, até que Pio XII empreendesse a reforma da Semana Santa, a Vigília celebrava-se na manhã de Sábado Santo. Já a partir do século VII que, em Roma, a Vigília se celebrava na tarde do sábado, procurando-se, porém, que a liturgia eucarística tivesse lugar já noite; porém, o início da Vigília, com o rito do Círio, fazia-se em pleno dia. A tendência a antecipar para a manhã as celebrações eucarísticas, por causa do jejum, agravou a situação. Mais tarde, já no período moderno, Urbano VIII suprimiu a Vigília do número das festas de preceito, manifestando a completa perda da consciência da importância e especificidade desta celebração. Não admira, pois, a dificuldade sentida hoje em revalorizar a Vigília: pesam sobre nós séculos de uma prática diferente, na qual a Vigília não tinha, efectivamente, importância. Foi o Papa Pio XII que, em 1951, restituiu a Vigília Pascal ao seu lugar primitivo: a noite de sábado para domingo.
A hora: «Toda a celebração da Vigília Pascal se faz de noite, mas de maneira a não começar antes do início da noite e a terminar antes da aurora do domingo». Esta regra deve ser interpretada estritamente. Qualquer abuso ou costume contrário, que vai surgindo por aqui e ali, de celebrar a Vigília Pascal nas horas para as quais é costume antecipar as Missas dominicais, deve ser reprovado (Carta circular 78: EDREL 3188).
1. Liturgia da luz
A Vigília inicia-se com a bênção do fogo, no qual se acende o Círio Pascal, símbolo de Cristo ressuscitado. O Círio é solenemente apresentado e é ele que guia e ilumina a entrada da comunidade na igreja. Segue-se o Precónio Pascal. Antes de mais, as designações:
- Exsultet : (Alegre-se, exulte) é a primeira palavra do Precónio Pascal (Exsultet iam angelica turba caelorum - «alegre-se a multidão celeste dos anjos»)
- Também se chama «Precónio Pascal». Do latim, præ-conium, anúncio solene ou pregão de um acontecimento importante, proclamado diante da comunidade.
De autor desconhecido, deve ser da primeira metade do século IV, porque já é citado por Santo Ambrósio, São Jerónimo e por Santo Agostinho. É um hino de louvor à noite, a Cristo, ao Círio. É como um lucernário gozoso ou um Prefácio solene da grande Festa Pascal, cheio de lirismo, convidando à alegria e ao louvor, pelo que esta noite significa para a comunidade cristã. É a noite em que Deus tirou os Israelitas da escravidão do Egipto. E, sobretudo, a noite do êxodo e libertação verdadeiros, realizados por Cristo para todos nós. Noite ditosa, iluminada pela Luz que é Cristo. O Círio é o símbolo simples e expressivo da festa pascal, em que todos participam da libertação salvadora da Páscoa. O Precónio canta-se solenemente, na sua versão mais longa ou na abreviada, do ambão – reservado, normalmente, para a Palavra revelada de Deus – depois de ter incensado o Círio. A comunidade escuta-o com as velas, acesas no Círo Pascal, na mão. «As Conferências Episcopais podem introduzir no Precónio certas aclamações para serem ditas pelo povo» (Carta circular 84: EDREL 3194).
2. Liturgia da Palavra
A liturgia da Palavra da Vigília tem um carácter eminentemente baptismal: falam-nos da criação e da promessa da nova criação, figuras do Baptismo; falam-nos do homem novo; apresentam-nos o Baptismo como participação pessoal na paixão, morte e ressurreição de Cristo.
O rito renovado da Vigília tem sete leituras do Antigo Testamento, tomadas dos livros da Lei e dos Profetas, já utilizadas com frequência pela mais antiga tradição tanto oriental como ocidental, e duas do Novo Testamento, tomadas das Cartas dos Apóstolos e do Evangelho. Assim a Igreja, «começando por Moisés e seguindo pelos Profetas», interpreta o mistério pascal de Cristo. Portanto, na medida em que for possível, leiam-se todas as leituras de modo que se respeite completamente a natureza da Vigília Pascal, que exige uma certa duração. Todavia, onde as circunstâncias de natureza pastoral exigem que se reduza ainda o número das leituras, leiam-se pelo menos três do Antigo Testamento, a saber, dos livros da Lei e dos Profetas; nunca se deve omitir a leitura do capítulo 14 do Êxodo, com o seu cântico. (Carta circular 85: EDREL 3195).
A Liturgia da Palavra desta celebração é particularmente rica e abundante. Depois de cada leitura do A.T., há um Salmo e uma oração. Os Salmos deveriam ser cantados.
Depois da última leitura do A.T. e antes da Epístola, canta-se o Glória. É de toda a conveniência que seja cantado este hino e cantado na totalidade. Durante o canto podem tocar-se campainhas e os sinos.
Depois da Epístola, canta-se o Aleluia pascal. É necessário dar-lhe um relevo especial, uma vez que esteve ausente da Liturgia na Quaresma. Este é o canto por excelência da Páscoa, que deve, por isso, merecer uma atenção especial. O Missal Romano determina que seja cantado três vezes e em crescendo, para lhe dar maior realce.
3. Liturgia Baptismal
Quer haja celebração de baptismos, quer não, a Vigília Pascal tem sempre uma liturgia baptismal. Quando não há baptismos, a assembleia faz a renovação das promessas baptismais.
Esta é uma celebração toda ela de carácter profundamente baptismal. O nome mais antigo do Baptismo é “iluminação”; ora é com a liturgia da luz que a celebração se inicia. A liturgia da Palavra fala-nos do Baptismo. O terceiro momento da celebração é precisamente uma liturgia baptismal. A liturgia eucarística, se houver baptismos, é a primeira participação dos neófitos na Eucaristia (se são adultos), completando assim a sua iniciação cristã. O Baptismo “é a própria páscoa do cristão (...) O Baptismo é uma libertação paralela à do êxodo e à do Gólgota, cuja eficácia salvífica desdobra e transmite”[1]. A oração de bênção da água da fonte baptismal sublinha esta perspectiva, dizendo: “Desça sobre esta água, Senhor, por vosso Filho, a virtude do Espírito Santo, para que todos, sepultados com Cristo na sua morte pelo Baptismo, com Ele ressuscitem para a vida” (Ritual Romano - Celebração do Baptismo, 54).
4. Liturgia Eucarística
A Eucaristia é o sacramento fundamental e central na vida da Igreja e na existência cristã. Nela se “actualiza continuamente o mistério pascal de Cristo entre os homens” (Preliminares do Ritual da sagrada Comunhão e culto do mistério eucarístico fora da Missa 23: EDREL 778). A Eucaristia é, por excelência, o memorial do Mistério Pascal, como sublinham os documentos do Magistério (cf. SC 6, é apenas um exemplo). Diz o Proémio da IGMR: “Para além da diferença no modo como é oferecido, existe perfeita identidade entre o sacrifício da cruz e a sua renovação sacramental na Missa”. “A Eucaristia é a Páscoa, e a Páscoa é a Eucaristia” (H. Jenny).
A celebração da Eucaristia é a quarta parte da Vigília e o seu ponto culminante, dado que é, do modo mais pleno, o sacramento pascal, ou seja, memorial do sacrifício da Cruz e presença de Cristo ressuscitado, consumação da iniciação cristã e antegozo da Páscoa eterna. Esta Liturgia eucarística, não deve celebrar-se apressadamente (Carta circular 90-91: EDREL 3200-3201).
Domingo de Páscoa da Ressurreição
A Missa do dia de Páscoa deve ser celebrada com grande solenidade. Em vez do acto penitencial, é conveniente fazer hoje a aspersão com a água benzida durante a celebração da Vigília. Durante a aspersão deve cantar-se a antífona «Vidi aquam» ou outro cântico de carácter baptismal (Carta circular 97: EDREL 3207).
Conserve-se, onde está em vigor, ou restaure-se onde for oportuno, a tradição de celebrar as Vésperas baptismais do dia de Páscoa, durante as quais, ao canto dos salmos, se vai em procissão até à fonte baptismal (Carta circular 98: EDREL 3208).
Tempo Pascal
O Tempo Pascal é o prolongamento do terceiro dia do Tríduo Pascal, o Domingo da Ressurreição, prolongamento que se estende por oito Domingos, uma verdadeira oitava de Domingos. É o espaço de 50 dias, o «laetissimum spatium», o tempo da grande alegria (TERTULIANO, De Bapt. 19, 2).
O Tríduo Pascal é o centro do Ano Litúrgico. A intensidade do que viveu e celebrou não pode, por isso, reduzir-se a esses dias. Daí que, desde muito cedo, antes ainda se existir uma Quaresma de preparação, a Igreja criou um tempo festivo que prolonga a festas pascais por cinquenta dias. “Os cinquenta dias que se prolongam desde o Domingo da Ressurreição até ao Domingo do Pentecostes celebram-se na alegria e exultação como um único dia de festa, melhor, como «um grande Domingo». São os dias em que de modo especial se canta o Aleluia” (22). Os Domingos deste tempo são chamados Domingo II, III, IV, V, VI e VII da Páscoa (23). Na cinquentena pascal são de destacar: a semana que se seque ao Domingo da Ressurreição, que constitui a Oitava da Páscoa (24); no quadragésimo dia – ou o Domingo VII da Páscoa – celebra-se a Ascensão do Senhor (25); o último dia da cinquentena pascal é o Domingo do Pentecostes (23). Convém sublinhar que Ascensão e Pentecostes não são duas festas autónomas, mas sim parte integrante do Tempo Pascal, como duas dimensões fundamentais do mistério pascal.
“Até ao terceiro Domingo da Páscoa, as leituras do Evangelho relatam as aparições de Cristo ressuscitado. As leituras do Bom Pastor estão atribuídas ao quarto Domingo da Páscoa. Nos Domingos quinto, sexto e sétimo da Páscoa há passagens do discurso e da oração do Senhor depois da última Ceia. A primeira leitura toma-se dos Actos dos Apóstolos, no ciclo dos três anos (...) Como leitura apostólica, lê-se no ano A a primeira Epístola de São Pedro, no ano B a primeira Epístola de São João, no ano C o Apocalipse” (OLM 100).
O Tempo da Páscoa deve ser vivido “como um único dia de festa” ou como «um grande Domingo»: é fundamental recuperar a unidade deste tempo litúrgico. A Ascensão e o Pentecostes são parte integrante do Tempo da Páscoa, como dimensões fundamentais do Mistério Pascal.
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