terça-feira, 29 de abril de 2014

LITURGIA DA PALAVRA!

O Rito da Palavra é a segunda parte da missa, e também a segunda mais importante, ficando atrás somente do Rito Sacramental, que é o auge de toda celebração. Inciamos esta parte sentados, numa posição cômoda que facilita a instrução. Normalmente são feitas três leituras extraídas da Bíblia: em geral um texto do Antigo Testamento, um texto epistolar do Novo Testamento e um texto do Evangelho de Jesus Cristo, respectivamente. Isto, porém, não significa que será sempre assim; às vezes a 1ª leitura cede espaço para um outro texto do Novo Testamento, como o Apocalipse, e a 2ª leitura, para um texto extraído dos Atos dos Apóstolos; é raro acontecer, mas acontece... Fixo mesmo, apenas o Evangelho, que será extraído do livro de Mateus, Marcos, Lucas ou João. Em algumas celebrações, temos apenas duas leituras (durante a semana), noutras chegamos a ter onze leituras (vigília pascal)!! Analisemos melhor o Rito da Palavra:
  1. COMENTÁRIO À PRIMEIRA LEITURA O comentário à primeira leitura tem como objetivo fazer uma breve introdução ao texto bíblico que será lido a seguir pelo leitor. Chama a atenção para algum ponto que será abordado na leitura. O comentário, como é possível de se deduzir, é feito pelo mesmo comentarista que deu início à celebração.
  2. PRIMEIRA LEITURA Como já dissemos, a primeira leitura costuma a ser extraída do Antigo Testamento. Isto é feito para demonstrar que já o Antigo Testamento previa a vinda de Jesus e que Ele mesmo o cumpriu (cf. Mt 5,17). De fato, não poucas vezes os evangelistas citam passagens do Antigo Testamento, principalmente dos profetas, provando que Jesus era o Messias que estava para vir. A importância de lermos o Antigo Testamento - que muitos declaram estar definitivamente suplantado pelo Novo Testamento -, como afirma o pe. Luiz Cechinatto, em sua obra "A Missa Parte por Parte", está no fato de que "precisamos conhecê-lo para entender a história de nossa Salvação e vermos o longo caminho andado até a chegada do Messias. Aquele passado distante faz parte do processo amoroso de Deus, que quis caminhar conosco falando a nossa linguagem". O leitor, então, começa a ler o texto e, ao concluir, diz: "Palavra do Senhor" e a comunidade responde com fé: "Graças a Deus!. O leitor deve ler o texto com calma e de forma clara. Por esse motivo, não é recomendável escolher os leitores poucos instantes antes do início da missa, principalmente pessoas que não têm o costume de freqüentar aquela comunidade. Quando isso acontece e o "leitor", na hora da leitura, começa a gaguejar, a cometer erros de leitura e de português, podemos ter a certeza de que, quando ele disser: "Palavra do Senhor", a resposta da comunidade, "Graças a Deus", não se referirá aos frutos rendidos pela leitura mas sim pelo alívio do término de tamanha catástrofe! Ora, se a fé vem pelo ouvido, como declara o Apóstolo, certamente o leitor deve ser uma pessoa preparada para exercer esse ministério; assim, é interessante que a Equipe de Celebração seja formada, também, por leitores "profissionais", ou seja, especial e previamente selecionados.
  3. SALMO RESPONSORIAL / CANTO DE MEDITAÇÃO O Salmo Responsorial também é retirado da Bíblia, quase sempre (em 99% dos casos) do livro dos Salmos. Muitas comunidades recitam-no, mas o correto mesmo é cantá-lo... Por isso uma ou outra comunidade possui, além do cantor, um salmista, já que muitas vezes o salmo exige uma certa criatividade e espontaneidade, uma vez que as traduções do hebraico (ou grego) para o português nem sempre conseguem manter a métrica ou a beleza do original. Assim, quando cantado, acaba lembrando um pouco o canto gregoriano e, em virtude da dificuldade que exige para sua execução, acaba sendo simplesmente - como já dissemos - recitado (perdendo mais ainda sua beleza) ou substituído pelo chamado Canto de Meditação. O Canto de Meditação, como o próprio nome já diz, tem como função ajudar a comunidade rezar e meditar sobre a Palavra de Deus que está sendo lida. Esse tipo de substituição é válido quando a mensagem desse canto tem ligação com o "tema" da missa, fato que é difícil de acontecer se comparado com a diversidade de temas proporcionado pelos Salmos. Seja usando o Salmo cantado ou recitado, ou, ao invés, o Canto de Meditação, deve toda a Assembléia cantar ou repetir o refrão.
  4. COMENTÁRIO À SEGUNDA LEITURA Tem o mesmo objetivo da primeira leitura, só que fazendo menção ao texto que será lido em seguida, isto é, na segunda leitura.
  5. SEGUNDA LEITURA Da mesma forma como a primeira leitura tem como costume usar textos do Antigo Testamento, a segunda leitura tem como característica extrair textos do Novo Testamento, das cartas escritas pelos apóstolos (Paulo, Tiago, Pedro, João e Judas), mais notadamente as escritas por São Paulo. Esta leitura tem, portanto, como objetivo, demonstrar o vivo ensinamento dos Apóstolos dirigido às comunidades cristãs. A segunda leitura deve ser encerrada de modo idêntico ao da primeira leitura, com o leitor exclamando: "Palavra do Senhor!" e a comunidade respondendo com: "Graças a Deus!".
  6. COMENTÁRIO AO EVANGELHO Assim como os anteriores, este comentário chama à atenção para algum ensinamento de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
  7. CANTO DE ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO Feito o comentário ao Evangelho, o cantor convida a assembléia a se por de pé, para aclamar as palavras de Jesus. O Canto de Aclamação tem como característica distintiva a palavra "Aleluia", um termo hebraico que significa "louvai o Senhor". Na verdade, estamos felizes em poder ouvir as palavras de Jesus e estamos saudando-O como fizeram as multidões quando Ele adentrou Jerusalém no domingo de Ramos. Percebemos, assim, que o Canto de Aclamação, da mesma forma que o Hino de Louvor, não pode ser cantado sem alegria, sem vida. Seria como se não confiássemos Naquele que dá a vida e que vem até nós para pregar a palavra da Salvação. Comprovando este nosso ponto de vista está o fato de que durante o tempo da Quaresma e do Advento, tempos de preparação para a alegria maior, também a palavra "Aleluia" não aparece no Canto de Aclamação ao Evangelho. Durante sua execução, a Bíblia pode ser trazida até o sacerdote, em procissão, representando a chegada do próprio Senhor...
  8. O SINAL DA CRUZ Recebida a Bíblia (quando for o caso) e concluído o Canto de Aclamação ao Evangelho, o sacerdote se inclina diante do altar e reza em voz baixa: "Ó Deus todo-poderoso, purificai-me o coração e os lábios, para que eu anuncie dignamente o vosso Santo Evangelho." Se, ao invés do sacerdote, for o diácono quem irá proclamar o Evangelho, deverá ele se dirigir até a frente do sacerdote e, inclinado, pedir-lhe em voz baixa:
    • Diácono: "Peço a sua bênção."
    • Sacerdote: "O Senhor esteja em teu coração e em teus lábios, para que possas anunciar dignamente o seu Evangelho. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo."
    • Diácono: "Amém."
    Depois disso, entrará (o sacerdote ou o diácono) em diálogo com a comunidade, dizendo:
    • Sacerd/Diác: "O Senhor esteja convosco!"
    • Assembléia: "Ele está no meio de nós!"
    • Sacerd/Diác: "Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo (nome do evangelista).
    • Assembléia: "Glória a vós, Senhor!"
    Então, o sacerdote ou diácono faz o sinal da cruz sobre a Bíblia e também sobre a testa, sobre a boca e sobre o peito (neste caso, rezando em silêncio: "Pelo sinal da Santa Cruz, livre-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos"); e cada fiel persigna o sinal da cruz amplo sobre si mesmo.
  9. EVANGELHO Antes de iniciar a leitura do Evangelho, se estiver sendo feito uso de incenso, o sacerdote ou o diácono (depende de quem for ler o texto), incensará a Bíblia e, logo a seguir, iniciará a leitura do texto. O texto do Evangelho é sempre retirado dos livros canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, e jamais pode ser omitido. É falta gravíssima não proceder a leitura do Evangelho ou substitui-lo pela leitura de qualquer outro texto, inclusive bíblico. Ao encerrar a leitura do Evangelho, o sacerdote ou diácono profere a expressão: "Palavra da Salvação!" e toda a comunidade glorifica ao Senhor, dizendo: "Glória a vós, Senhor!". Neste momento, o sacerdote ou diácono, em sinal de veneração à Palavra de Deus, beija a Bíblia (rezando em silêncio: "Pelas palavras do santo Evangelho sejam perdoados os nossos pecados") e todo o povo pode voltar a se sentar.
  10. HOMILIA (SERMÃO) A homilia nos recorda o Sermão da Montanha, quando Jesus subiu o Monte das Oliveiras para ensinar todo o povo reunido. Observe-se que o altar já se encontra, em relação aos bancos onde estão os fiéis, em ponto mais alto, aludindo claramente a esse episódio. Da mesma forma como Jesus ensinava com autoridade, após sua ascensão, a Igreja recebeu a incumbência de pregar a todos os povos e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que Cristo pregou. A autoridade de Cristo foi, portanto, passada à Igreja. A homilia é o momento em que o sacerdote, como homem de Deus, traz para o presente aquela palavra pregada por Cristo há dois mil anos. Neste momento, devemos dar ouvidos aos ensinamentos do sacerdote, que são os mesmos ensinamentos de Cristo, pois foi o próprio Cristo que disse: "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita" (Lc 10,16). Logo, toda a comunidade deve prestar atenção às palavras do sacerdote. A homilia é obrigatória aos domingos e nas solenidades da Igreja. Nos demais dias, ela também é recomendável, mas não obrigatória.
  11. PROFISSÃO DE FÉ (CREDO) Encerrada a homilia, todos ficam de pé para recitar ou cantar o Credo. Este nada mais é do que um resumo da fé católica, que nos distingüe das demais religiões. É como que um juramento público, como nos lembra o pe. Luiz Cechinatto. Da mesma forma que o Hino de Louvor, caso o Credo seja recitado, poderá ser adotado dois coros, para expressar uma maior beleza. Embora existam outros Credos católicos, expressando uma única e mesma verdade de fé, durante a missa costuma-se a recitar o Símbolo dos Apóstolos, oriundo do séc. I, ou o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, do séc. IV. O primeiro é mais curto, mais simples; o segundo, redigido para eliminar certas heresias a respeito da divindade de Cristo, é mais longo, mais completo. Na prática, usa-se o segundo nas grandes solenidades da Igreja. Eis o texto desses símbolos:
    1. Símbolo dos Apóstolos: Creio em Deus Pai todo-poderoso,
      criador do céu e da terra.
      E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor;
      que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
      nasceu da Virgem Maria;
      padeceu sob Pôncio Pilatos;
      foi crucificado, morto e sepultado.
      Desceu à mansão dos mortos;
      ressuscitou ao terceiro dia;
      subiu as céus;
      está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
      donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
      Creio no Espírito Santo;
      na Santa Igreja católica;
      na comunhão dos santos;
      na remissão dos pecados;
      na ressurreição da carne;
      na vida eterna.
      Amém.
    2. Símbolo Niceno-Constantinopolitano Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
      criador do céu e da terra,
      e de todas as coisas visíveis e invisíveis.
      Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
      Filho Unigênito de Deus,
      nascido do Pai antes de todos os séculos:
      Deus de Deus, luz da luz,
      Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
      gerado, não criado,
      consubstancial ao Pai.
      Por ele todas as coisas foram feitas.
      E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus
      e se encarnou pelo Espírito Santo,
      no seio da Virgem Maria,
      e se fez homem.
      Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
      padeceu e foi sepultado.
      Ressuscitou ao terceiro dia,
      conforme as Escrituras
      e subiu aos céus,
      onde está sentado à direita do Pai.
      E de novo há de vir, em sua glória,
      para julgar os vivos e os mortos;
      e o seu reino não terá fim.
      Creio no Espírito Santo,
      Senhor que dá a vida,
      e procede do Pai e do Filho;
      e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado:
      Ele que falou pelos profetas.
      Creio na Igreja,
      una, santa, católica e apostólica.
      Professo um só batismo
      para a remissão dos pecados.
      E espero a ressurreição dos mortos
      e a vida do mundo que há de vir.
      Amém.

  12. ORAÇÃO DA COMUNIDADE A Oração da Comunidade ou Oração dos Fiéis, como também é conhecida, marca o último ato do Rito da Palavra. Nela toda a comunidade apresenta suas súplicas ao Senhor e intercede por todos os homens. Alguns pedidos não devem ser esquecidos pela comunidade:
    • As necessidades da Igreja.
    • As autoridades públicas.
    • Os doentes, abandonados e desempregados.
    • A paz e a salvação do munto inteiro.
    Além destas, deve a assembléia apresentar outras de caráter local, específicas da comunidade. A introdução e o encerramento da Oração da Comunidade é feita pelo sacerdote. Quando possível, devem ser feitos espontaneamente. As preces podem ser feitas pelo comentarista ou, melhor ainda, pelos próprios fiéis. Cada prece deve terminar com a expressão: "Rezemos ao Senhor!", para que a comunidade possa responder com: "Senhor, escutai a nossa prece!" ou "Ouvi-nos, Senhor!" Quando o sacerdote conclui a Oração da Comunidade, dizendo, por exemplo: "Atendei-nos, ó Deus, em vosso amor de Pai, pois vos pedimos em nome de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso.", a assembléia encerra com um: "Amém!". Termina, então, a segunda parte da missa e inicia-se a terceira parte: o Rito Sacramental.


Copyright (c) 1999 por Carlos Martins Nabeto.
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