terça-feira, 29 de abril de 2014

COMUNIDADE CRISTÃ, DOM DO ESPÍRITO SANTO!



Aqueles que verdadeiramente fazem a experiência da realidade do Espírito são levados a descobrir a realidade da comunidade cristã assim como o fizeram os primeiros cristãos.
Jesus havia anunciado não somente o que deve ser a “comunhão” entre os cristãos na parábola da Vida (Jo 15) mas ainda orou por essa unidade vivida entre os cristãos (Jo 17, 20-23).
Após Pentecostes, esta comunhão, esta comunidade, se realiza sob a ação do Espírito. Só Ele pode criar uma comunidade cristã. Só Ele põe os cristãos em comunhão uns com os outros numa relação vital. É o seu papel próprio. Pode-se assim dizer: Pentecostes é o nascimento de uma COMUNIDADE CRISTA; em outras palavras, o nascimento da Igreja.
Encontramos nos Atos três descrições da primeira comunidade cristã, mas na verdade é preciso ler e reler as cartas dos Apóstolos para fazer uma idéia completa da vida das primeiras comunidades. Mas os três textos seguintes são um ponto de partida para nossa reflexão.
Ei-los:
At 2, 42-47: “Eles se mostravam assíduos aos ensinamentos dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. O temor se apossava de todos os espíritos, porque numerosos eram os prodígios e sinais realizados pelos Apóstolos. Todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum; vendiam as suas propriedades e os seus bens e dividiam o preço entre todos, segundo as necessidades de cada um.
Dia após dia, unânimes, freqüentavam assiduamente o Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam do favor de todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava à comunidade os que seriam salvos”.
At 4, 32-37: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles. Com muito vigor, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E todos eles tinham grande aceitação. Não havia entre eles indigente algum, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendiam-nas, traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos Apóstolos; e distribuía-se a cada um segundo a sua necessidade.
José, denominado Barnabé pelos apóstolos, o que quer dizer filho de exortação, levita originário de Chipre, possuía um campo; ele o vendeu e trouxe o dinheiro para depô-lo aos pés dos apóstolos”.
At 5, 12-16: “Pelas mãos dos apóstolos faziam-se numerosos sinais e prodígios no meio do povo…
Todos permaneciam unidos, no pórtico de Salomão, e nenhum dos outros ousava juntar-se a eles, mas o povo celebrava os seus louvores. Aderiam ao Senhor fiéis em número cada vez major, uma multidão de homens e de mulheres.
…a ponto de serem os doentes transportados para as praças e depostos lá em leitos e catres, afim de que, ao passar Pedro, ao menos sua sombra cobrisse alguns deles.
A multidão acorria mesmo das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo doentes e atormentados de espíritos impuros, e todos eram curados”.
Uma frase nos dá as duas linhas de força da “Koinonia”. “Eles se mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos e à comunhão fraterna.”
Vamos apresentar esta palestra em 5 pontos:
1. Em que consistia a comunidade
2. Papel dos carismas na comunidade
3. Os frutos do Espírito na comunidade
4. As reuniões da comunidade
5. 0 crescimento da comunidade: o testemunho.
1º) Em que consistia a comunidade
a) Comunhão quer dizer adesão ao ensino dos Apóstolos.
Este ponto é capital. A unidade não pode ser criada e mantida se não há fidelidade à fé, obediência à fé. Os apóstolos eram as testemunhas e transmitiam o que haviam visto e ouvido: “o que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam da palavra da vida – porque a vida manifestou-se: nós vimos e damos testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna” (1 Jo l’ 1-2).
Paulo era formal sobre este ponto, ele que, após a visão no caminho para Damasco, poderia tão facilmente ter formado sua pequena seita. Eis seu testemunho: “Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular. Nele bem articulado, todo o edifício se ergue em santuário sagrado, no Senhor, e vós, também, nele sois co-edificados para serdes uma habitação de Deus, no Espírito” (Ef 2, 20-22).
Paulo vai à assembléia de Jerusalém para estar em comunhão de doutrina com os Apóstolos; para dizer-lhes que prega o mesmo Evangelho: “Pois aquele que estava operando em Pedro para a missão dos circuncisos operou também em mim em favor dos gentios – e conhecendo a graça a mim concedida, Tiago, Cafas e João, todos como colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão; nós pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão; nos só nos devíamos lembrar dos pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude” (Gál 2, 8-10).
Aos Coríntios ele escreveria: “Por conseguinte, tanto eu como eles, eis o que pregamos. Eis também o que acreditastes” (1 Cor 15, 11).
b) Comunhão quer dizer ter um só coração, uma só alma
Paulo insistia a tempo e a contratempo para que se guardasse a unidade no Cristo. Esta unidade no Cristo suplanta todas as divergências, todas as diferenças de raças, de cultura: é fazer-se em comum a experiência da comunhão em Jesus Cristo. Existem numerosas expressões paulinas desta comunhão fraterna. Eis três:
- Flp 2, 1-5: “Portanto, pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no Amor, pela comunhão do Espírito, por toda ternura e compaixão, levais à plenitude minha alegria, pondo-vos acordes no mesmo sentimento, no mesmo amor, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e vanglória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si mesmo, nem cuidando cada um só do que é seu, mas também do que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus”.
A unidade vai ao ponto de terem entre si os mesmos sentimentos que Jesus.
- “Eu vos exorto, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, a andardes de modo digno da vocação com que fostes chamados: com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com amor, procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação com que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4, 1-6).
Paulo não podia suportar os que queriam ter sua própria igrejinha.
“Eu vos exorto, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: guardai a concórdia uns com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós; sede estreitamente unidos na mesma inteligência e no mesmo modo de pensar. Com efeito, meus irmãos, pessoas da casa de Cloé me informaram de que existem rixas entre vós. Explico-me: cada um de vós diz: “Eu sou de Paulo!” ou “Eu sou de Apolo!” ou “Eu sou de Cefas!” ou “Eu sou de Cristo!”. Cristo estaria dividido? Paulo terá sido crucificado em vosso favor? Ou fostes batizados em nome de Paulo?” (1 Cor 1, 10-13).
2º) Papel dos carismas na comunidade
- Para começar, que é um carisma? É algo gratuito: é um dom do Amor de Deus a seus filhos. (Ler a este respeito o artigo do Pe. Lebeau na “Revue Magnificat” nº 2, abril de 1974.)
- Estes dons espirituais são dados para edificar, construir a comunidade. “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria, a outro a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro o dom de falar em línguas; a outro ainda o dom de as interpretar. Mas, isso tudo, é o único e mesmo Espírito que o realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz” (1 Cor 12, 4-11).
Paulo deseja que os cristãos não fiquem na ignorância a respeito dos carismas: 1 Cor 12, 1: “A propósito dos dons do Espírito, irmãos, não quero que estejais na ignorância”.
- É preciso mesmo pedi-los, aspirar a eles. É perfeitamente normal em uma comunidade cristã. Toda comunidade cristã deve ser carismática; isto é, os dons espirituais devem normalmente aí se manifestar; o contrário seria anormal.
Procurai a caridade. Entretanto, aspirai aos dons do Espírito, principalmente a profecia” (1 Cor ’14, 1 ).
“É por isto que aquele que fala em línguas, deve orar para poder interpretá-las. Se oro em línguas o meu espírito está em oração, mas a minha inteligência nenhum fruto colhe. Que fazer, pois? Orarei com o meu espírito, mas hei de orar também com a minha inteligência. Cantarei com o meu espírito, mas cantarei também com a minha inteligência. Com efeito, se deres graças apenas com teu espírito, como poderá o ouvinte não iniciado dizer “Amém” à tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Sem dúvida, a tua ação de graças é valiosa, mas o outro não se edifica. Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vós. Mas numa assembléia prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência, para instruir também os outros, a dizer dez mil palavras em línguas.
Irmãos, quanto ao modo de julgardes, não sejais como crianças; quanto à malícia, sim, sede crianças, mas, quanto ao modo de julgar, sede adultos. Está escrito na Lei: falarei a esse povo por homens de outras línguas e por lábios estrangeiros, e mesmo assim não me escutarão, diz o Senhor. Por conseguinte, as línguas são um sinal não para os que crêem, mas para os que não crêem. A profecia, por sua vez, não é para os infiéis, mas para os que crêem. Se, por exemplo, a Igreja se reunir e todos falarem em línguas, os indoutos e os incrédulos que entrarem não dirão que estais loucos? Se, ao contrário, todos profetizarem, o incrédulo ou o indouto que entrar, há de se sentir argüido por todos; os segredos do seu coração serão desvendados; prostrar-se-á com o rosto por terra, adorará a Deus e proclamará que Deus está realmente no meio de vós.
Que fazer, pois, irmãos? Quando estais reunidos, cada um de vós pode cantar um cântico, proferir um ensinamento ou uma revelação, falar em línguas ou interpretá-las; mas que tudo se faça para a edificação! Se há quem fale em línguas, falem dois ou no máximo três, um após o outro. E que alguém as interprete. Se não há intérprete, cale-se o irmão na assembléia; fale a si mesmo e a Deus. Quanto aos profetas, dois ou três tomem a palavra e os outros julguem. Se alguém que esteja sentado, recebe uma revelação, cale-se o primeiro. Vós todos podeis profetizar, mas cada um a seu turno, para que todos sejam instruídos e encorajados” (1 Cor 14, 13-31 ).
- Mas não podemos dissociar os carismas da caridade. Eles devem estar ligados à caridade, de outro modo não têm valor. Eis por que Paulo escreveu seu cântico à caridade enquanto ensinava sobre os carismas. É assim que na primeira carta aos Coríntios temos o seguinte esquema:
Capítulo 12: sobre os carismas.
Capítulo 13: cântico sobre a caridade.
Capítulo 14: outra vez sobre os carismas.
Deste modo Paulo não quer dizer que basta a caridade, e que os carismas não são necessários. Mas ele quer dizer que a corrente da caridade tudo anima. Os carismas são como os utensílios, preciso usá-los no amor.
3º) Os frutos do Espírito na comunidade
Os frutos do Espírito são para Paulo a prova, a manifestação da autenticidade da vida carismática. Podem existir carismas falsos, seja por estarem as pessoas na ilusão, seja porque pode haver charlatães espirituais ou pessoas histéricas. Por isso Paulo nos aconselha a “provar de tudo e reter o que é bom”. Jesus já havia avisado aos apóstolos que se precavessem: “Reconhece-se a árvore por seu fruto”.
Não podemos rever aqui todos os frutos do Espírito. Vamos aqui limitar-nos à leitura da passagem de Paulo aos Gálatas 5, 22-26: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra essas coisas não existe lei. Pois os que são de Cristo Jesus, crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito também sejamos conduzidos. Não sejamos cobiçosos de glória vã, provocando-nos uns aos outros e invejando-nos uns aos outros”.
Dentre estes frutos, retenhamos aqui o da alegria. Ela explode em cada página dos Atos dos Apóstolos. Esta alegria não é deste mundo, ela vem de Deus, é a alegria mesma que estava em Jesus. A sua alegria que ele nos prometeu: “Agora porém, vou para junto de ti e digo isto no mundo, a fim de que tenham em si minha plena alegria” (Jo 17, 13). Os que vivem no Espírito têm esta alegria, mesmo no meio de contradições e sofrimentos. Ao sair da prisão, após terem sido espancados estão alegres:
“Chamaram de novo os apóstolos e mandaram bater-lhes com varas e, depois de intimá-los a não falar no nome de Jesus, soltaram-nos. Quanto a eles, deixaram o Sinédrio, muito alegres de terem sido julgados dignos de sofrer ultrajes pelo Nome” (At 5, 40-41).
“Fê-los, então, subir à sua casa, pôs-lhes a mesa, e alegrou-se com todos os seus por ter crido em Deus” (At 16,34).
É a alegria “de anunciar a Palavra, é a alegria de recebê-la”. “Muito alegres por estas palavras, os gentios glorificavam a palavra do Senhor, e todos aqueles que eram destinados à vida eterna, abraçaram a fé. Assim, a palavra do Senhor difundia-se por toda a região. Mas os judeus instigaram algumas senhoras nobres e devotas, assim como os principais da cidade; suscitaram deste modo uma perseguição contra Paulo e Barnabé e expulsaram-nos de seu território. Estes, sacudindo contra eles a poeira dos pés, foram a Icônio. Os discípulos, porém, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (At 13, 48-52).
Ao ler estes textos percebemos que não se trata de uma emoção passageira e artificial, mas sim de um belo fruto que ilumina a vida toda.
4º) As reuniões da comunidade
a) Nas primeiras comunidades cristãs
Muito depressa os cristãos começaram a se reunir em casa de uns e outros. Que se passava então?
- Louvava-se e celebrava-se o Senhor de todo coração por cantos inspirados; por salmos.
“Falai uns aos outros com salmos e hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração, sempre e por tudo dando graças a Deus, o Pai, em nome de Jesus Cristo nosso Senhor” (Ef 5, 19-20).
- Proclamava-se a palavra de Deus, e as testemunhas relatavam nas reuniões o que Jesus havia dito, o que ele havia feito.
“A Palavra de Cristo habite em vós ricamente: com toda a sabedoria ensinai e admoestai uns aos outros e, em ação de graças a Deus, entoem vossos corações salmos, hinos e cânticos inspirados. E tudo o que fizerdes de palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, por ele dando graças a Deus, O Pai” (Col 3, 16-17).
- Celebrava-se a ceia do Senhor. Isto dava às reuniões uma dimensão misteriosa, uma densidade que jamais alguém havia experimentado nas sinagogas. Seria aqui preciso reler a passagem de 1 Cor 11, 17-33, na qual Paulo fala dos abusos de certos cristãos durante as reuniões.
- Eles faziam as refeições na alegria.
Havia um calor humano e uma espontaneidade que se harmonizavam admiravelmente bem com as coisas espirituais e sagradas. “Dia após dia, unânimes, freqüentavam assiduamente o Templo e partiam O pão pelas casas, tomando o alimento com a alegria e simplicidade de coração” (At 2, 46).
b) A reunião de oração nos grupos da renovação
Nossas reuniões de oração são uma volta à espontaneidade destas liturgias iniciais.
Por toda parte nascem grupos de oração. Isto mostra com evidência uma necessidade de voltar à oração, ou ao menos de redescobrir uma oração mais espontânea e mais interior. Dentro desta floração desejaria situar o que é um grupo de oração da Renovação Carismática. Pois com efeito existem muitas reuniões que se parecem com este grupo de que estou falando, mas que são outra coisa. Por exemplo: grupos de meditação em comum, grupos para partilhar o Evangelho, grupos de revisão de vida etc… Além disso há um certo número de grupos de oração da Renovação que estão “em formação” mas ainda não estabelecidos: muitos tateiam ainda e teriam necessidade de um treino ou preparação baseada em uma doutrina certa e uma pastoral esclarecida.
Eis o que nos parecem ser as características de um grupo formado para esta maneira de orar. Uma coisa é evidente, mas nunca é demais enfatizar: é preciso que todo o grupo tenha entrado para a Renovação, isto é, que a maioria dos membros tenha feito a experiência da Renovação. Então compreendem-se e vivem-se as linhas de força que caracterizam uma reunião de oração da Renovação. Empregamos propositalmente a expressão “linhas de força” para mostrar claro que não se trata de uma oração esquematizada ou organizada seguindo tal ou qual modelo.
AS CINCO LINHAS DE FORÇA
1. Presença de Jesus
É antes de mais nada a tomada de consciência da presença de Jesus no meio do grupo: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles”. Digo tomada de consciência porque a cada reunião isto é lembrado, isto é “orado”. Cada vez nós nos situamos em uma atitude de fé viva na presença do Cristo vivo e ativo no meio do grupo. O Senhor está lá com seu poder e seu amor para curar, fortificar, reconfortar. Esta tomada de consciência é a chave da oração da renovação.
2. Abertura ao Espírito Santo
Ela só é possível porque o grupo se abre à ação do Espirito Santo. Esta é a segunda linha de força. Vamos à reunião para nos oferecer a uma ação mais penetrante do Espírito em nós. Esta ação é pedida várias vezes por uns e outros. Levamos a sério os apelos ao Espírito que se acham magnificamente expressos na liturgia. Não tenhamos medo de pedir os dons espirituais segundo o conselho de Paulo:
“A propósito dos dons do Espírito, irmãos, não quero que estejais na ignorância. Sabeis que, quando éreis gentios, éreis irresistivelmente arrastados para os ídolos mudos. Por isso, eu vos declaro que ninguém, falando com o Espírito de Deus, diz: “Anátema seja Jesus!” e ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor” a não ser no Espírito Santo.
Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas, isso tudo, é o único e mesmo Espírito que o realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz” (1 Cor 12, 1-11).
3. Oração de Louvor
Outra linha de força que anima a oração da Renovação é a ênfase dada ao louvor. Viemos antes de mais nada celebrar o Senhorio de Jesus Cristo, filho de Deus; viemos para adorar, louvar e agradecer a Deus nosso Pai. Nossa reunião deve ser uma sinfonia de louvor, como uma fonte que jorra sem cessar em múltiplos jatos d’água. “Falai uns aos outros com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração” (Ef 5, 19).
4. Comunhão
É preciso que façamos também a experiência da comunhão em Jesus Cristo: “Tendo sido alimentados de seu corpo e de seu sangue, concedei-nos ser um só corpo e um só espírito no Cristo”. Esta unidade em Jesus e entre todos os presentes é assim vivida no plano existencial em cada reunião. Todos estando à escuta uns dos outros o Espírito se manifesta no grupo e em cada um dos seus membros, as divergências entre pessoas desaparecem para dar lugar ao amor fraterno, fruto do Espírito Santo. A solidão e o isolamento de tantos cristãos são vencidos e vem a alegria de sermos juntos o corpo e o sangue do Cristo. Paulo, falando dos dons espirituais, põe em evidência o que é a comunhão: “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só espirito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres; e todos bebemos de um só Espirito!”.
O corpo não se compõe de um só membro, mas de muitos. Se o pé disser: “Mão eu não sou, logo não pertenço ao corpo”, nem por isso deixará de fazer parte do corpo. E, se a orelha disser: “Olho eu não sou, logo não pertenço ao corpo”, nem por isso deixará de fazer parte do corpo. Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se fosse todo ouvido, onde estaria olfato?
Mas Deus dispôs cada um dos membros do corpo, segundo a sua vontade. Se o conjunto fosse um só membro, onde estaria o corpo? Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: “Não preciso de ti”; nem tampouco pode a cabeça dizer aos pés: “Não preciso de vós”.
Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos, são os mais necessários, e aqueles que parecem menos dignos de honra, são os que cercamos de maior honra, e nossos membros que são menos decentes, nós os tratamos com mais decência; os que são decentes, não precisam de tais cuidados. Mas Deus dispôs o corpo de modo a conceder maior honra ao que é menos nobre, afim de que não haja divisão no corpo, mas os membros tenham igual solicitude uns com os outros. Se um membro sofre, todos os membros compartilham seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros compartilham a sua alegria.
Ora, vós sois o corpo de Cristo e membros, cada um por sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, doutores… Vêm, a seguir, os dons dos milagres, das curas, da assistência, do governo e o de falar diversas línguas. Porventura, são todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores? Todos realizam milagres? Todos têm os dons das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? (1 Cor 12, 12-30).
5. Palavra de Deus
Há uma quinta linha de força que Paulo põe em evidência em Col 3, 16: “A Palavra de Cristo habite em vós ricamente”. A Palavra deve ser como o cenário: é o pão que alimenta a reunião. É a mensagem de Deus que é ouvida e recolhida em um coração e um espirito abertos à ação do Espirito:
“Mas o Paráclito, o Espirito Santo que o Pai enviará em meu nome, é que vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26). É desejável que venhamos às reuniões com o missal para que, escutando a palavra oferecida nossa meditação neste dia, estejamos em comunhão com toda a Igreja.
Para aqueles que começam, sugerimos o seguinte roteiro para “entrar na Palavra de Deus”. É preciso escolher um texto de certa densidade se a liturgia do dia não lhe traz inspiração.
Eis as etapas deste roteiro:
- Primeira etapa: o líder lê o texto muito lentamente. Esta primeira leitura é seguida de um silêncio – nem muito longo nem muito curto.
- Segunda etapa: outra pessoa do grupo relê o mesmo texto – também muito lentamente e também seguido por um silêncio. A Palavra de Deus penetra mais fundo.
- Terceira etapa: membros do grupo – segundo a inspiração de cada um – relêem a frase ou a palavra que os tocou, pela qual foram atingidos – ainda leitura textual. Desta vez a Palavra de Deus age ainda mais fundamente.
- Quarta etapa: um ou outro retoma palavras ou frases orando o texto, dizendo por exemplo: Jesus, dá-me uma alma de pobre, afasta todo o orgulho de meu espírito.
Depois deixa-se partir a oração, o louvor, a ação de graças… na espontaneidade e seguindo a inspiração de cada um.
OUTROS ELEMENTOS IMPORTANTES DE UMA REUNIÃO DE ORAÇÃO
- Lugar e valor do silêncio
Não se pode aqui dar regras precisas. Um grupo com um pouco de experiência nota quando é preciso calar-se. É preciso então “ouvir o silêncio”: fazer-se presente para Deus como ele está presente para nós. Durante este tempo a Palavra penetra em nosso coração e nos transforma. No início, o líder do grupo pedirá de vez em quando um momento de silêncio.
Será normalmente neste tempo de silêncio que palavras virão aos lábios para esclarecer e fortificar a assembléia. É aconselhável que de vez em quando o grupo faça uma avaliação de sua oração e neste momento se questione sobre o lugar e qualidade do silêncio.
- Sobre a importância do canto e dos instrumentos musicais
É preciso um esforço real para cantar com freqüência o melhor possível. Escolhamos sobretudo cantos de louvor, cânticos que dirijam a atenção, o olhar a Jesus, ao Pai, ao Espírito (leia-se o Salmo 150).
- O modo de nos colocarmos
Não é para ser negligenciado. Sempre em círculo, em volta de uma vela acesa que simboliza a presença de Jesus. Sendo muito numerosos, coloquemo-nos em círculos concêntricos.
- Orações em murmúrio
De início elas espantam; após algum tempo nos fazem consciência da presença do Espírito que nos faz murmurar pequenas expressões de louvor, de amor, de ação de graças sem prestarmos atenção aos outros. Estas orações nos fazem entrar em um tipo de movimento que finalmente nos carrega a todos.
- O canto, a oração em línguas
Muitos se inquietam por causa do dom de línguas. É nos menos curiosos que um dom de Deus provoca tal inquietude. Por este motivo é que devemos nos informar, como nos diz São Paulo em 1 Cor 12, 1: “A propósito dos dons do Espírito, irmãos, não quero que estejais na ignorância”.
O dom de línguas se manifesta de duas formas: pode ser ascendente – uma prece de louvor que se dirige a Deus nosso Pai através de uma linguagem preconceptual, segundo o que nos revela São Paulo aos Romanos (8,26): “Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. ..”. Algumas vezes o nosso desejo de louvar o Senhor, de expressar-lhe nosso amor é tão forte que não encontramos mais palavras. É então que o Espírito faz uso deste meio de expressão muito livre e muito humano, utilizado tão graciosamente pela criança que ainda não aprendeu a falar. Este canto é de uma beleza sem par e nos leva sempre a um sentimento muito forte da presença de Deus que nos dá a sua Paz.
Há uma segunda manifestação do dom de línguas. São Paulo nos fala dela com precisão na primeira epístola aos Coríntios, no capítulo 14. Trata-se, desta vez, de uma mensagem do Senhor que é dada a uma das pessoas do grupo numa língua que ela própria não compreende. Uma outra pessoa do grupo recebe a interpretação desta mensagem e a diz numa língua que todos compreendem. Trata-se, pois, de um sinal que manifesta a ação do Espírito Santo. É necessário sem dúvida discerni-lo, pois pode acontecer que falsos carismas se misturem aos verdadeiros. Mas, desde que o Senhor nos fala desta maneira, é necessário acolher o dom que ele nos dá na ação de graças e jamais sufocar o Espírito.
- A espontaneidade e a liberdade
Como digo algumas vezes, nós somos um pouco como as aves congeladas. Precisamos de algum tempo para descongelar. Toda uma educação nos congelou em atitudes reservadas e polidas… já é tempo de reencontrar um pouco de liberdade e de espontaneidade nos grupos de oração. Se a juventude exprime a sua vitalidade pelo canto, pela dança, pelas guitarras, por que motivo esta mesma juventude estaria enregelada ao celebrar a alegria de Cristo ressuscitado? Não nos esqueçamos que somos corpo e alma e que a expressão gestual é bem própria da condição humana.
- Os testemunhos
É de grande proveito que se diga com simplicidade tudo de bom e belo que o Senhor nos dá, a maneira como ouve nossas orações, os sinais visíveis da ação do Espírito Santo. Tudo isso ajuda a comunidade, dando-lhe cada vez mais confiança na oração.
- Intenções da oração
Devem ser colocadas ao fim da reunião. De outro modo tomariam o lugar do louvor; elas vêm naturalmente, como fruto de uma comunidade que se deixou invadir pelo amor fraterno.
- As profecias
Não se trata de predizer o futuro mas sim de palavras que edificam a comunidade. Paulo dá um grande valor a estas palavras inspiradas: “Aquele que profetiza, fala aos homens: edifica, consola, exorta” {1 Cor 14, 3).
- O papel do lider
É evidentemente importante ter um líder que compreenda seu papel. É preciso orar afim de que a comunidade descubra aquele que deve assumir tal função. Não é requisito que seja sempre o mesmo.
Qual é o seu papel? Ele não vai conduzir uma reunião seguindo um esquema já preparado:
- deve velar para que as linhas de força já mencionadas estejam sempre presentes: a presença de Jesus, o apelo ao Espírito, a comunhão, o louvor, a palavra de Deus, o silêncio.
- é desejável que ele tenha preparada uma passagem da Escritura, escolhida de preferência na liturgia do dia ou do domingo. Poderá dar algumas orientações à oração a partir desta passagem, ou seguir o caminho indicado acima a partir da palavra de Deus na reunião.
- deve esforçar-se por manter um certo equilíbrio entre os elementos, mas com bastante flexibilidade, sem esquecer de sem cessar, reconduzir a comunidade ao louvor.
- no início ele intervém mais, porém progressivamente dá lugar ao Espírito e cuida que uns e outros estejam à escuta do Espírito que nos fala através dos irmãos e irmãs.
Para concluir, releiamos duas passagens de Paulo: “Enchei-vos do Espírito. Falai uns aos outros com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração, sempre e por tudo dando graças a Deus, o Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5, 18-20).
“A Palavra de Cristo habite em vós ricamente: com toda sabedoria ensinai e admoestai uns aos outros e, em ação de graças a Deus, entoem vossos corações salmos, hinos e cânticos inspirados. E tudo o que fizerdes de palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, por ele dando graças a Deus, o Pai” (Col 3, 16-17).
Tudo isso se faz progressivamente; não se deve forçar nada, mas abrir-se à ação do Espírito na fé e na generosidade. O Reino dos céus é como um grão de mostarda… é preciso ser paciente, não se desencorajar. Um último conselho: conservemos o senso de humor, não nos tomemos muito a sério, sabendo às vezes rir de nós mesmos; assim tudo será marcado com o selo do bom senso cristão. Então o grupo de oração será um tempo forte que a cada vez nos dá “um coração novo, um espírito novo”.
- A Eucaristia
Quando um padre está presente à reunião de oração, será aconselhável terminá-la pela celebração da Eucaristia. Para permanecer dentro da perspectiva das reuniões das primeiras comunidades cristãs é preciso jamais perder de vista o vínculo entre a Eucaristia e a reunião de oração. Esta última é como uma liturgia da Palavra num modo livre e espontâneo. É uma conclusão normal que ela seja seguida da Eucaristia.
Não esqueçamos que a Comunidade Cristã é “essencialmente” uma Comunidade Eucarística.
- Após a reunião
Ela termina de um modo bem livre. Alguns tomam uma xícara de café (não organizem uma refeição), outros podem desejar continuar a orar em pequenos grupos porque alguém pede que se ore por ele, pedindo uma efusão particular do Espírito por uma necessidade particular.
- O Padre e a reunião de oração
Normalmente não deve ser ele o líder; às vezes ele tem este papel no início, mas depois deixa este lugar a outros.
- Ele está lá ao mesmo tempo como todos os outros cristãos e como a presença da Igreja para “discernir”, se for necessário, e jamais para extinguir o Espírito.
- Seu papel é, portanto, discreto; ele deixa o Espírito Santo agir e se qualquer coisa lhe parece anormal, que fale com o líder depois da reunião.
5º) O crescimento da comunidade: O testemunho
A comunidade como tal e cada membro eram missionários. Depois de terem recebido a boa nova de Jesus, a efusão do Espírito, não podiam deixar de partilhá-la com os outros.
Ser testemunha de Jesus Cristo era manifestar visivelmente que se recebera o Espírito. Jesus o disse pouco antes de partir: “Mas o Espírito descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então, minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judéia e Samaria, e até os confins da Terra” (At l’ 8).
Havia dois tipos de testemunho:
O dos membros: Cada um testemunhava ao sabor de seus encontros diários no mercado, em família, à saída do templo. Testemunho por palavras, mas sobretudo por uma espécie de transparência, de irradiação que era como o sinal da presença e da força de Jesus Cristo. Lembremos a encantadora história de Felipe que corre atrás do carro do etíope (At 8, 26-40).
Nada os segurava: nem ironias, nem prisões, nem perseguições (At 5, 17-21).
O da comunidade: A comunidade era como uma demonstração, uma carta escrita que manifestava a presença de Jesus, a veracidade de sua mensagem, a ação visível do Espírito Santo.
Aqui é preciso ler e reler os Atos. Quanto mais meditamos sobre eles, mais tomamos consciência de que para construir o Reino é preciso entregarmo-nos à ação do Espírito Santo. Não foi com ouro nem prata, com métodos e novidades que eles atraíram os incrédulos, mas tornando-se uma comunidade, uma comunhão que era o sinal visível do Amor.
Os grupos de oração que evoluem bem tornam-se comunidades, cada uma segundo o seu chamamento. Mas não podem fechar-se sobre si mesmos; à imagem das primeiras comunidades cristãs devem ser missionários. Se não partilhamos os dons de Deus nós os perdemos.
“Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então, minhas testemunhas” (At 1, 8).
Esforcemo-nos por tomar consciência de que somos o corpo de Cristo .
Fonte: Cancaonova.com

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