II – PARÓQUIA, ESPAÇO NO QUAL A IGREJA ACONTECE
“As igrejas da Ásia vos saúdam. Áquila e Prisca, bem como a
Igreja que se reúne na casa deles, saúdam-vos efusivamente no
Senhor. Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos com o beijo
santo” (1Cor 16,19-20).
3. “Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia” – Esse foi o tema central
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a Assembleia da CNBB, realizada em Aparecida, de 10 a 19 do mês
de abril deste ano de 2013. Os Bispos do Brasil re# etiram sobre a urgente
necessidade da renovação das nossas comunidades paroquiais, aprofundando
esse tema. Tal renovação pressupõe, por parte de toda a Igreja, uma verdadeira
conversão pastoral e uma nova dinâmica missionária das nossas comunidades
de fé, como nos diz o Documento de Aparecida. Ora, toda conversão
supõe um processo de mudança permanente, que implica o abandono de um
caminho e a escolha de outro. Sendo assim, somos chamados a abandonar
velhas estruturas, que já não mais correspondam às necessidades do tempo
presente no que tange à transmissão da fé e a uma nova evangelização. Esse
processo nos impulsiona a ir além de uma pastoral de mera conservação e
manutenção, abraçando uma pastoral decididamente missionária. Portanto,
fazer da paróquia uma comunidade de comunidades é uma urgência na ação
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evangelizadora da Igreja no Brasil, tendo em vista uma nova paróquia que seja
decididamente espaço de vivência cristã e de irradiação missionária.
4. Uma autêntica experiência cristã acontece necessariamente no seio de uma
comunidade reunida pelo dom da fé e da vivência do seguimento ao Cristo
Jesus. Os discípulos e os apóstolos do Senhor desde a primeira hora foram
formados em meio à comunidade chamada Igreja. Na história eclesiástica, a
dimensão comunitária da fé foi sendo desenvolvida e se concretizando desde
as Igrejas domésticas, casas nas quais os primeiros cristãos se reuniam para a
oração e a Eucaristia, até chegar à paróquia como a conhecemos nos dias de
hoje.
A Igreja doméstica (Domus Ecclesiae)
5. Na Bíblia grega, aparecem três palavras ligadas à noção de paróquia: o substantivo
paroikía, (estrangeiro, migrante), o verbo paroikein, (viver junto a,
habitar nas proximidades, viver em casa alheia, em peregrinação) e a palavra
paroikós, (vizinho, próximo, que habita junto). Unindo esses três sentidos,
podemos ver que o próprio termo “paróquia” deseja identi' car os cristãos
como peregrinos que estão em movimento, seguindo a Cristo no caminho (cf.
At 16,17). A palavra “paróquia” indica, então, movimento, caminho, pois a
Igreja presente em cada paróquia é a comunidade de ' éis formada por estrangeiros
(cf. Ef 2,19), pelos que estão de passagem (1Pd 1,7) ou, ainda, pelos imigrantes
(1Pd 2,11) ou peregrinos (Hb 11,13) neste mundo. Sempre indicando
que o cristão não está em sua pátria de' nitiva (cf. Hb 13,14), mas deve se
comportar como quem se encontra fora da pátria (cf. 1Pd 1,17). A “paróquia”,
desse modo, é uma “estação” onde se vive de forma provisória, pois o cristão é
caminheiro. Ele segue o caminho da salvação (cf. At 16,17).
6. As primeiras comunidades cristãs, no entanto, não eram conhecidas como
paróquias. Eram na verdade comunidades domésticas, pois se reuniam nas
casas (cf. 1Cor 1, 11; 16, 19). Foi com o aumento dos cristãos que as antigas
comunidades “domésticas” evoluíram para as paróquias. Os cristãos, agora
em grande número, já não se reuniam nas casas, mas numa construção maior,
que congregava toda a vizinhança cristã de um mesmo território sem excluir
nenhum batizado. Essa casa era a “Casa da Igreja”. Daqui nasceram nossas
igrejas paroquiais. Qual foi o problema dessa evolução? O perigo de se perder
a noção de vida cristã como vivência de comunidade, já que agora a Igreja se
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reunia em assembleias bem mais numerosas, sendo assim, massivas e anônimas.
Sentimos esse perigo, hoje, como uma preocupante realidade: nossas paróquias
parecem uma reunião de anônimos, de pessoas que mal se conhecem
e que quase nunca partilham a experiência de vida cristã.
A paróquia como casa
7. No sentido teológico e pastoral, a paróquia é a experiência de Igreja que
acontece ao redor da casa, é, portanto, uma das vivências de Igreja mais próximas
de nós. O Documento de Santo Domingo de' ne a paróquia como a “Casa
de Deus em meio às casas dos homens”. Sendo assim, pode-se a' rmar que a
paróquia é a presença da Igreja de Cristo ali onde as pessoas vivem, habitam;
ela deve ser um ambiente acolhedor e aconchegante, a casa-comunidade onde
os cristãos se encontram, criam laços de fraternidade e familiaridade, pois na
fé, pelo batismo, todos são irmãos, pertencentes à família de Deus. Independente
dos vínculos de território, de moradia ou pertença geográ' ca, a paróquia
vem ser também a casa de acolhida dos peregrinos que transitam pelas
estradas da vida rumo à casa celestial, isto é, vem ser a pátria de' nitiva. Para
cumprir efetivamente seu papel, a paróquia deve ser uma família de famílias,
ou melhor, uma comunidade de comunidades. Isto quer dizer que a paróquia
é o lar dos cristãos, no qual se deve fazer a experiência comunitária de seguir
Jesus Cristo. Sendo assim, devemos fazer das nossas paróquias verdadeiras
casas de Deus e lares dos cristãos, nos quais toda a comunidade de fé possa
sentir-se bem acolhida, criando-se nela um sentimento verdadeiro de estar
num ambiente familiar de aconchego e de pertença, onde cada membro da
comunidade paroquial possa sentir-se amado e acolhido, de maneira personalizada,
e considerar-se verdadeiramente um ' lho de Deus.
8.
A paróquia é a casa da Palavra de Deus – É na comunidade paroquial, enquanto
experiência viva e concreta de ser Igreja, que os discípulos missionários
escutam, acolhem a Palavra do Senhor e buscam vivenciá-la. Assim, a
paróquia, casa dos cristãos, deve ser o ambiente privilegiado onde Deus nos
dirige a sua palavra, sobretudo na sagrada liturgia. Portanto, a paróquia é o
ambiente privilegiado no qual o cristão escuta atentamente a Palavra de Deus
e o Deus da Palavra.
9.
A paróquia também é a casa do Pão – Como já foi dito, a paróquia é a casa
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da Palavra de Deus, onde a família cristã é saciada diariamente com o pão da
Palavra de Deus, sobretudo no âmbito da celebração eucarística. Ora, a paróquia
é, também e principalmente, a casa do Pão Eucarístico. O homem sempre
tem sede e fome de Deus e cabe à Igreja paroquial saciar a todos os homens
e nutri-los com o Pão vivo descido do Céu, que é o próprio Senhor Jesus oferecido
em sacrifício pelos pecados do mundo e dado em comunhão para que
sejamos um só corpo com ele e, nele, tornar-nos cada vez mais Igreja. Assim,
a Igreja faz a Eucaristia e, ao mesmo tempo, a Eucaristia nutre, alimenta e
edi' ca a Igreja.
10.
A Paróquia é a casa da caridade – Os ' éis que pertencem às nossas comunidades
paroquiais devem ser motivados cada dia a testemunharem o amor-
-caridade onde quer que eles estejam, a socorrerem os mais necessitados que
se encontram caídos à beira do caminho, nas “periferias existenciais”, segundo
a expressão cara ao Papa Francisco. Ora, a fé sem obras é morta, adverte-nos
o apóstolo São Tiago. Sendo assim, a caridade que nós praticamos é, na verdade,
a fé colocada em prática, convertida em solidariedade, em amor efetivo,
atuante, testemunho e prolongamento do amor de Cristo no mundo. Assim
como acreditamos que Deus cuida de nós, devemos também nós cuidar dos
nossos irmãos e irmãs que são marginalizados e excluídos da sociedade. Em
cada rosto sofrido, ferido pela pobreza, miséria, nudez, abandono e indigência,
a comunidade paroquial deve, pela fé, contemplar o rosto do Cristo pobre
e abandonado na cruz, recordando que cada irmão sofrido é “carne ferida de
Cristo”, ainda segundo o Papa Francisco.
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