Um coração tranquilo é a vida do corpo, enquanto a inveja é a carie dos ossos (Pr 14:30).
Por Ángela Cabrera, op.
Não é raro encontrar o sentimento da inveja narrado no universo bíblico. Ele está presente nos reatos mais antigos da Bíblia, e permeia até mesmo as relações familiares.
Raquel, estéril, sentiu inveja de sua irmã, Lia que estava grávida. Diante das reclamações da esposa, Jacó esclarece à Raquel que a realidade lhe escapa entre os dedos. A graça e os dons sãos distribuídos de acordo com os critérios de Deus, e nesse âmbito, o ser humano não tem qualquer influência (Gn 30,1-2).
Assim ocorre também com José, filho temporão de Jacó. O carinho do pai para com o filho caçula despertou a ira de seus próprios irmãos, que tramaram sua morte (Gn 37,18) e o venderam ao Egito (v. 27). Seus parentes próximos não sabiam, no entanto, que a presença de Deus o acompanhava (At 7,9). Há ainda o caso de Isaac, que possuía rebanhos, ovelhas e diversos servos, e por isso sofreu com a inveja dos filisteus (Gn 26,14).
A palavra de origem hebraica utilizada para definir “inveja” oferece algumas explicações pertinentes. Analisando o Antigo Testamento, qana´indica o forte desejo de algo que está em posse de outra pessoa. Ou seja: o sentimento de inveja surge quando alguém cobiça um objeto ou qualidade da qual carece ou não tem condições de adquirir, e frustrantemente os percebe em outra pessoa. A palavra engloba o sentido de “ser ou estar invejoso”, mas acima de tudo, “despertar e provocar a inveja”.
Ao se referir à inveja no Novo Testamento, o grego utiliza a palavra phtonos, que pode ser definida como “ter má vontade”. A inveja não é somente aquilo que se deseja e não se tem, mas supõe também o ressentimento contra a pessoa que conserva aquilo que desejamos. É como se, às vezes, a inveja estivesse acompanhada do ciúme.
A tradição sapiencial aconselha a não invejar ou praticar injustiças a quem parece triunfar (Sl 36,1-7) e recomenda que não se inveje o discurso dos arrogantes nem a prioridade dos ladrões (Sl 72,1-28), tampouco o comportamento dos violentos (Pr 3,31). Os sábios definem a inveja como “a cárie dos ossos”, que se contrapõe ao “coração tranquilo”, sinônimo de vida para o corpo.
Até mesmo Jesus foi invejado por sua solidariedade diante do sofrimento humano, pela atração que exercia nas multidões empobrecidas, pela quantidade de fieis que o seguiam e por sua relação íntima com Deus, a quem chamava de Pai.
A inveja foi um dos estímulos que motivou os arrogantes a entregarem Jesus a seus executores (Mt 27,18; Mc 15,10). O evangelista Marcos identifica a inveja como uma emoção forte e carregada de negatividade, que é gestada no interior da pessoa e a desumaniza (Mc 7,22-23). Assim como o Messias, os apóstolos também foram invejados (At 5,17), e os invejosos dificultaram a vida daqueles que pregavam os ensinamentos de Jesus (At 13,45).
Entre os cristãos, deixa-se claro que não podemos estimular o crescimento dessa larva (ICor 3,3), que só pode ser eliminada quando o Amor de Deus irradiar em nosso dia a dia (Tt 3,3-8).
O sentimento de inveja é uma das armadilhas em que a humanidade caiu, pois nos faz sofrer gratuitamente ao testemunhar o êxito do próximo. Quanto mais se descuida do próprio jardim para observar o jardim alheio, mas o nosso quintal se enche de sujeira.
Cuidar do próprio jardim é descobrir a si mesmo. O conhecimento pessoal cura a inveja, pois existem diversos dons e capacidades que podemos aflorar. Saber que fomos brindados com a graça divina, nos torna capazes de doar o que temos e, simultaneamente, nos reveste de humildade para pedir favor àqueles que possuem o que não temos. Assim fomos criados: para suprir a necessidade um do outro e nos solidarizar em meio às controvérsias e alegrias cotidianas.
Matéria retirada da Revista Ave-Maria, Ano 114, Julho 2012, pág. 44 e 45.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
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