Você já parou para refletir sobre o preço da solidão?
A solidão pode ter muitas variáveis. Não significa solitário quem somente está isolado. Mas pode ser solitário também quem mesmo estando com pessoas, com a esposa ou esposo, os filhos, os amigos não sabem ou não compreendem a linguagem dos que perto de si dialogam.
No romance de Nicholas Sparks, Querido John, o autor conta a história de sua vida desde a infância com a ausência de sua mãe e a convivência com o seu pai. Um homem que quase não falava com o filho, mas não deixava de fazer as costumeiras coisas diárias para ele e a rotina de trabalho.
As vezes ele queria ouvir o pai e outras tantas ele se esforçava para que o pai o ouvisse. Mas não havia réplica. Silêncio, mudez e solidão. Estar acompanhado e estar sozinho ao mesmo tempo.
Na vida a dois também é assim. Homem e mulher podem estar sobre o mesmo teto e após poucos anos de casamento ou convivência se sentirem sozinhos. Não há diálogo. Não se completam. Não se falam e repetindo os afazeres quando namoravam. E muitas das vezes se vem solitários e quando se dirigem um ao outro, as palavras são fortes, machucam e revelam uma personalidade que não condiz com o que se apresentava.
Dai resultam as feridas. É o preço dessa solidão. Feridas que marcam a alma e a história. Feridas que não são curadas com altas e nem baixas dosagens de remédio. Feridas que romperam os tecidos da almas e chegaram ao mais íntimo dela. Porque o silêncio fruto da solidão trouxe para ele ou ela. Não conseguem mais voltarem sejam amigos a amizade, sejam casados ao romance do enamoramento. E as feridas ali continuam provocando as mais terríveis dores que até mesmo não pode ser suportados.
A solidão gera também no físico debilidades terríveis. Como não lembrar da depressão que é o mal do século! A solidão gerada por quem já se acostumou a usar dos meios das redes sociais para comunicar-se e até mesmo medir o grau de suas amizades e quando estas param, a solidão que é o sentimento de ausência gerando um vazio deixa a pessoa também deprimida.
Quantos tentam esconder a sua solidão procurando ser a pessoa mais extrovertida e rodeada de amigos ou colegas porque tem medo de sentir-se sozinho. A solidão tem um peço. Talvez ou até seja provável que os religiosos se sintam solitários. Mas creio que não sejam solteirões. Porque a solidão não tem a ver com solteirões e sim com ausência. A falta de algo muito mais elevado que preencha um vazio da existência. Os religiosos consagrados (e aqui inclua-se todos os ramos da vocação religiosa) quando encontram na experiência de oração a Deus sentem-se preenchidos.
Assim também deveriam sentir-se preenchidos os casais. Eles se tem. Mas as vezes não se preenchem. E o que falta? Amor? Companheirismo? Diálogo? São tantas as receitas e cada vez mais vemos relacionamentos sofridos. Marcados e feridos e que são difíceis de recuperar até mesmo em uma nova relação de amizade, namoro, casamento.
Creio eu até aqui que se faz necessário buscarmos preencher os nossos vazios existenciais que temos antes mesmo de assumir uma vocação ou relação. Porque assim perceberemos quem somos e não seremos feridos e nem iremos ferir.
Assim fez Jesus.
Antes de iniciar quis por vontade do Pai no Espírito ser conduzido ao deserto. E no deserto passou pelos mais pesadelos humanos de realizar a sua vontade, renunciando a vontade do Pai. Mas Ele resistiu. E porque? Confiou na vontade do Pai e não na sua. O Pai naquele momento não abandonou.
Quando rezamos o Pai-nosso também dizemos que seja feita a vontade de Deus e não a nossa.
Se seguirmos o exemplo de Jesus também preencheremos os nossos vazios existenciais com Ele. Pois as feridas que transpassaram os tecidos da alma e chegou na essência da mesma, agora é fechada por Aquele que a pode tocar.
Deus nos sonda e nos conhece e toca no mais íntimo do nosso ser.
Padre Cássio Santos de Souza.
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