quarta-feira, 31 de julho de 2013

História de Santo Inácio de Loyola o padroeiro dos JESUITAS!

História de Santo Inácio de Loyola Vida de Santo Inácio Íñigo (Inácio) López nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, próximo a San Sebastian, no País Basco, na Espanha, em 1491. De família rica, o caçula de treze irmãos, decidiu dedicar-se à espiritualidade aos 26 anos, quando abandonou a carreira militar, voltando a estudar para melhor abraçar a vocação descoberta de
evangelizador. De 1522 a 1523 escreveu os Exercícios Espirituais, baseados em sua experiência de encontro com Deus, através de reflexões que levam em conta sua própria humanidade. Os Exercícios Espirituais se tornaram, mais tarde, um reconhecido método de evangelização para os católicos. Em 1534, com mais seis companheiros, entre eles Francisco Xavier, funda a Companhia de Jesus, que recebe a aprovação do Papa Paulo III em 1540, quando Inácio é escolhido para o cargo de superior-geral da ordem. Os jesuítas se espalharam pelo mundo. No Brasil, tiveram importante papel na conversão e proteção de indígenas durante a época colonial, além de contribuírem decisivamente para o ensino com colégios em diversos pontos do território nacional que hoje integram a Rede Jesuíta de Educação. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro de Retiros Espirituais. Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola na Vida Cotidiana (EVC) A versão dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola (EVC), apresentada neste site, é uma adaptação on line das experiências dos EVC já desenvolvidos por orientadores jesuítas e Centros de Espiritualidade Inaciana do Brasil. •I - Apresentação •II - Roteiro Básico dos Exercícios Diários •III - Orientação -------------------------------------------------------------------------------- I - Apresentação 1) O que são os Exercícios Espirituais (EEs) de Santo Inácio de Loyola? “Entende-se, por Exercícios Espirituais, qualquer modo de examinar a consciência, meditar, contemplar, orar vocal ou mentalmente e outras atividades espirituais” (Inácio de Loyola). Trata-se, pois, de uma metodologia de desenvolvimento espiritual, proposta por Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (Ordem Religiosa dos Padres e Irmãos Jesuítas). A sua primeira redação, pelo próprio Inácio, se deu no ano de 1522, refletindo sua experiência espiritual. Mais tarde, foi enriquecida com sua experiência apostólica e sua formação intelectual (Paris, 1528-1535 e Veneza, 1536-1537). 2) Para que servem os Exercícios Espirituais? A finalidade dos EEs pode ser resumida em três grandes metas: - ser uma “escola de oração”, promovendo uma profunda união com Deus; - desenvolver as condições humanas e espirituais para que o exercitante possa tomar uma decisão importante na sua vida; - ser uma ajuda para a pessoa alcançar a liberdade de espírito, através da consciência do significado de sua existência, discernindo o que mais a conduz para a vida em plenitude. 3) O que significa “método de exercício espiritual”? Significa que você, nos exercícios, não vai encontrar um tratado, uma teoria, nem mesmo, muito conteúdo. Mas, sim, um roteiro de exercícios. Como um roteiro de exercícios físicos, a matéria é desenvolvida pela própria pessoa, ao praticar os exercícios. Comparando-se a exercícios musicais, ou seja, um roteiro de exercícios para aprender a tocar um instrumento musical, a beleza da matéria está no resultado que a prática dos exercícios produzirem. Com o passar do tempo, a execução da música torna-se espontânea e resulta na beleza da música, na sua afinação e na sintonia com a orquestra toda. 4) Como praticar os Exercícios Espirituais? Os EEs podem ser praticados na modalidade de um “RETIRO ESPIRITUAL”. Ou seja, afastando-se do seu local de vida e de atividades cotidianas, “retira-se” para um lugar mais propício à meditação. Para este fim, a Companhia de Jesus e outras congregações religiosas dispõem de casas de retiro espiritual (cf. endereços abaixo). Outra modalidade para a prática dos Exercícios Espirituais é a que se propõe neste site: “EXERCÍCIOS NA VIDA COTIDIANA” (EVC). Neste caso, sem se afastar de seus afazeres diários e se retirar a um lugar isolado, você poderá fazer os exercícios no dia-a-dia de sua vida. 5) Como praticar os Exercícios na Vida Cotidiana (EVC)? Se você optar por fazer uma experiência espiritual seguindo a proposta dos EVC do presente site, observe o seguinte: 1º) Durante trinta dias, para cada dia, você seguirá um roteiro com proposta de meditação. 2º) Procure se ater somente ao conhecimento do roteiro a ser exercitado em seguida, pois, trata-se de um caminho a ser percorrido espiritualmente, em oração, e não apenas intelectualmente. 3º) Planeje sua caminhada espiritual: nestes trinta dias, dedique 30´ (trinta minutos) diários à meditação. Se possível, faça o exercício no início do dia, antes de iniciar os afazeres do dia, em ambiente silencioso que possibilite a concentração de todo o seu ser. No restante do dia você poderá retomar o Exercício, repetindo a frase ou palavra do texto bíblico que mais lhe marcou. Se você não puder dedicar esses trinta minutos exclusivos para o Exercício, você poderá fazê-lo até mesmo enquanto estiver em trânsito para o trabalho, ou em algum intervalo, durante o dia. Neste caso, você poderá fazer essa leitura antes de sair de casa ou imprimir a página do Exercício Diário ou memorizar uma frase ou uma palavra que mais te chamou atenção no texto. Quanto ao tempo de oração, Santo Inácio insiste na fidelidade diária e na pontualidade, pois essa “disciplina espiritual” é importante para você ir adquirindo um hábito espiritual. 6) Orientação / acompanhamento espiritual? Se você tiver acesso facilitado, em sua Paróquia ou Comunidade, a alguém que já tenha feito os EEs completos, procure, preferencialmente no final de cada semana (ou após os trinta dias), um acompanhamento espiritual. Nesta orientação espiritual, você poderá narrar os momentos mais significativos de sua caminhada espiritual e receber ajuda para discernir os próximos passos. Se possível, procure participar de um grupo de partilha dos EVC, acompanhado por pessoa experiente em orientação espiritual. Para dúvidas práticas, você poderá acessar o contato deste site, conforme está abaixo e no final de cada semana de EEs. 7) O roteiro de EEs. O que se apresenta neste site é uma proposta de um mês de exercícios diários, correspondente à iniciação dos EEs. É um roteiro com matérias específicas para cada uma das quatro semanas de oração. Após esta fase de iniciação, se você desejar um aprofundamento da experiência na prática dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, sugerimos buscar orientação especializada em algum dos centros de espiritualidade inaciana (cf. endereços no abaixo). Contudo, você mesmo poderá formular um roteiro de caminhada espiritual. Para isso, o texto do Evangelho da Liturgia Diária é excelente (cf., neste site, “Evangelho do Dia” ou “Liturgia Diária”). Alguns dos Centros de Espiritualidade Inaciana: Minas Gerais, Belo Horizonte: www.centroloyola.org.br Minas Gerais, Juiz de Fora: www.centroloyolajf.com.br Rio de Janeiro, RJ: www.puc-rio.br/campus/servicos/cloyola Rio de Janeiro, São Conrado: carpacust@uol.com.br Goiás, Goiânia: centroloyola.blogspot.com Distrito Federal, Brasília: www.ccbnet.org.br São Paulo, Indaiatuba: www.itaici.org.br São Paulo, Rondinha: www.santoandre.org.br/rondinha Rio Grande do Sul, São Leopoldo: www.cecrei.org.br Mato Grosso, Cuiabá: secretariacbfj@brturbo.com.br Amazônia, Manaus: diasjm@argo.com.br Ceará, Russas: cies@yahoo.com.br Piauí, Teresina: ciesteresina@panet.com.br -------------------------------------------------------------------------------- II - Roteiro Básico dos Exercícios Diários Para praticar os EEs, procure memorizar os cinco passos descritos abaixo, pois serão seguidos diariamente: Primeiro Passo Colocar-se na presença de Deus Oração é diálogo! Nesse caso, diálogo com Deus! Por isso, é imprescindível para a oração firmar convicção de que efetivamente esse alguém está comigo, para me ouvir e me falar, para relacionar-se comigo como duas pessoas que convivem e partilham dons e bens. Sempre, ao iniciar a oração, dedique um tempo para tomar consciência da presença de Deus em sua vida, “aqui e agora”. Segundo Passo Pedir a Graça de Deus Trata-se, neste momento, de apresentar a Deus o pedido da Graça que quero e desejo alcançar na oração. Dizer o que quero e desejo (e repetir isso várias vezes) fortalece a vontade e configura a mente e o afeto para acolher a vontade de Deus. Há um pedido próprio para cada fase dos exercícios. Conforme a dinâmica dos EEs, o pedido faz parte de uma pedagogia que nos possibilita um gradativo desenvolvimento espiritual. Contudo, é importante você formular este pedido com suas próprias palavras. O mesmo pedido deverá ser repetido em todos os Exercícios da semana. Terceiro Passo Meditar a Palavra de Deus Feito o pedido, leia com atenção o texto bíblico proposto para o Exercício do dia. O que Deus está me dizendo através desta palavra? O que isso pode significar para mim, na situação em que vivo atualmente? Demorar-se na meditação do texto bíblico, sem pressa, permitindo que a Palavra de Deus ecoe no íntimo de seu ser e existir. Saboreie interiormente cada palavra, cada frase. Durante o dia, você poderá recordar e repetir diversas vezes a frase ou a palavra mais marcante do texto. Quarto Passo Fazer um Colóquio com Deus Conclua sua oração com um “colóquio” com Deus, ou seja, como que conversando com Deus a respeito do seu momento de oração, fale a Ele o que você tem sentido. Numa relação de confiança e amizade autêntica, não tenha receio de manifestar a Deus os verdadeiros sentimentos e pensamentos que o presente Exercício Espiritual suscitou em você. As “moções do Espírito” são instrumentos pelos quais Deus age no mais íntimo do ser humano. Quinto Passo Anotar Concluído o Exercício, procure anotar em seu diário espiritual as percepções mais significativas da oração. O que mais me marcou interiormente? Que sentimentos, moções ou percepções a oração suscitou em mim? Na medida do possível, procure um acompanhamento espiritual com um jesuíta ou alguém que já tenha feito os Exercícios Espirituais completos. Neste acompanhamento você poderá partilhar sua experiência espiritual, procurar discernir o caminho percorrido e a direção dos próximos passos. A anotação que você fizer no final de cada Exercício será matéria para a orientação espiritual. -------------------------------------------------------------------------------- III - Orientação 1ª) Em cada semana você deverá repetir os mesmos passos, mudando, apenas o texto bíblico da meditação. Contudo, se em determinado Exercício o texto despertou em você moções significativas, livremente, você poderá retomá-lo em outros momentos. 2ª) No domingo, você deverá fazer uma espécie de “repetição” dos momentos mais significativos dos exercícios da semana que passou. Como o domingo é dia de celebrar com a Comunidade Eclesial, você poderá tomar como matéria de sua oração um dos trechos bíblicos da liturgia dominical. Esse texto você poderá tirá-lo deste mesmo site (cf. “Liturgia Diária”). 3ª) As orientações que aparecem no final do roteiro diário devem ser lidas fora do momento da oração. Como em todos os textos, você deve se deter na reflexão dessas orientações somente se houver aí alguma contribuição para o momento que você estiver vivendo e para o êxito da caminhada. 4ª) Santo Inácio de Loyola nos chama atenção para a generosidade, uma atitude imprescindível para o sucesso dos Exercícios Espirituais: “muito aproveita entrar neles com grande ânimo e generosidade para com seu Criador e Senhor. Ofereça-lhe todo seu querer e liberdade, para que Deus se sirva, conforme Sua vontade, tanto de sua pessoa, como de tudo o que tem” (EEs, 5ª Anotação). Essa atitude de generosidade possibilita a você viver a comunicação com Deus numa relação de dom total. Pois, segundo Santo Inácio, amor é a partilha de dons e bens entre as pessoas que se amam. A você que se dispõe a esta caminhada espiritual, o dom total deseja pleno êxito! Entre em contato conosco, comunicando-nos sua decisão. Envie-nos seus comentários e sugestões: contato@domtotal.com.

A paz começa no lar!

Embora nenhum de seus filhos "pinte" para delinqüente, é necessário ter presente que a violência pouco a pouco entra nos lares. Por exemplo, você sabia que 25 por cento das garotas nos Estados Unidos são agredidas por seus namorados e o que é pior, a maioria delas acredita que isto é normal? Ao escutar notícias lamentáveis como estas e pensar que em tudo o que acontece no mundo, não se pode deixar de perguntar... Quem pode ser capaz de semelhante barbaridade... em que coração humano cabe tanta frialdade... quem pode ser capaz de tanta violência? Desafortunadamente, esta é uma realidade que é vivida em todos os lugares, que afeta a todos, e de muitas maneiras. É verdade que a violência sempre existiu, mas o mais perigoso agora, é que começa a ser tolerada, a ser aceita como inevitável: sem ir muito longe, seria inusual encontrar um filme onde as balas, o sexo deliberado e a crua violência não fizessem sua aparição; ou algum semanário ou jornal onde não seja uma notícia policial a que estampa a primeira página. Entretanto, o homem não é feito para a guerra, é feito para a paz. E isto pode ser assegurado porque a história nos demonstra que o homem que vive na violência se auto-destrói. O difícil e complicado do tema é que a paz não se dá instantaneamente nem por mandato, não se obtém sem esforço, nem se compra ou pede emprestada: a paz tem que nascer do coração de cada homem. E se não há paz no coração, como pode haver paz em um povo, em uma nação, no mundo? Viver em paz É por isso, que manter a paz é uma obrigação primária para todos, mas em especial dos pais, pois é no lar onde se aprende a viver e construir a paz; é ali onde os pais têm a enorme responsabilidade de ensinar aos filhos a maneira de comportar-se, de tratar aos demais e de resolver os problemas. É incrível como até em uma pequena sociedade como a família, onde existe carinho entre seus membros, pode perder-se a paz. Não há dúvida de que a paz é algo muito frágil pela qual deve-se trabalhar pacientemente todos os dias para conquistá-la. Mas antes de alcançar isto, tem-se primeiramente que ter claro como se vive a paz. Ao contrário do que muitos acreditam, a paz não é a ausência da guerra, nem é somente o respeito aos outros. Quão fácil seria e também quão perigoso se os pais só tivessem que respeitar aos filhos para poder ter um lar cheio de paz!: "Ah, sim, meu filho quiser ter seu quarto todo bagunçado, devo respeitá-lo". A paz se vive: · Ao ter um verdadeiro sentido de justiça. · Quando não só se reconhecem os próprios direitos, mas também os dos demais. Se é reconhecida a dignidade de seus filhos como pessoas. Muitas vezes ao vê-los pequenos, alguns pais se aproveitam deles e cometem verdadeiros abusos de autoridade. · Ao ensinar aos filhos a distinguir entre o bem e o mal, ao formar neles uma consciência reta, à vez que se trabalha pela paz. Quando os filhos são pequenos, os pais são como uma "consciência externa" deles (como o Grilo Falante em "Pinóquio"), daí a importância de seus atos e julgamentos. Exaltar o valor da vida humana, sua dignidade e seu direito. Tanto a vida deles mesmos como a dos que o rodeiam tem um imenso valor, desgraçadamente com tanta violência (nos meios de comunicação, no meio ambiente), as crianças não apreciam este valor. Passos para alcançar a paz (na virtude) Vontade. Muitas vezes embora as crianças conheçam o bem e o mal, falta-lhes força de vontade, não aprenderam o hábito do esforço, são crianças "boas", mas talvez estas crianças não aprenderam a dominar-se, nem a pensar nos demais, nem a sacrificar-se, sentem que o mundo gira ao redor deles, muitas destas crianças se tornam "tiranas". Exigência. Os filhos devem ser exigidos, claro que dentro de suas possibilidades, ensiná-los a enfrentar os problemas e a esforçar-se para resolvê-los, que saibam sentir-se orgulhosos de terem sido capazes de realizar as coisas por si mesmos. Valentia. Que tenham heróis que inspirem sua vida, mas que sejam heróis de grandes ideais, porque atualmente são apresentadas às crianças a violência como forma de heroísmo, necessitam dos pais para que lhes ensinem o que é nobre e grande. Respeito. Cuidar para que as crianças não adquiram o costume de tomar as coisas dos outros, por mais insignificante que seja o roubo; e se quebra algo alheio, deve ser reposto, ensinar-lhes que as coisas alheias sempre devem ser respeitadas. Generosidade. É algo que por si é difícil nas crianças, é nesta idade quando tendem a ser mais egoístas, por isso é importante que eles vejam um bom exemplo: como seus pais ajudam ao necessitado ou ao que tem algum problema (dentro das próprias possibilidades). Para despertar nas crianças o sentido de generosidade, pode-se acostumá-los desde pequenos a renunciar algo seu e compartilhá-lo com alguma outra criança. Cortesia. Gastón Courtois disse que a cortesia "é filha do respeito ao próximo e irmã da caridade". Aquele que é cortês sabe que não é o centro do mundo, é uma pessoa que pensa nos demais e em seus sentimentos. O domínio de si mesmo é um elemento que vai de mãos dadas coma cortesia. Uma criança sente raiva porque algo saiu mal ou porque um irmão quebrou-lhe alguma coisa e não é ensinado a se controlar, quando grande lhe será muito difícil, se não impossível manter o controle de seus atos e muito menos respeito pelos demais. Ordem. É um elemento essencial para que haja harmonia e equilíbrio em um lar. Quando há ordem em uma casa, há normas e limites, isto proporciona segurança aos filhos e lhes ensina a ter disciplina. Caridade. Não se pode deixar de mencionar este valor essencial para que haja paz, pois é um elemento que determinará a qualidade da pessoa e sua capacidade para relacionar-se com os demais. Buscar o bem pessoal e o dos demais é justamente o que traz como conseqüência a paz. A paz é o resultado de muitas atitudes, todas estas fundamentadas precisamente na caridade, não entendida como esmola, mas como amor. Gastón Courtois também escreveu: "Quando a caridade domina, a humanidade se engrandece. Quando o egoísmo reina, a humanidade se rebaixa". Que responsabilidade têm os pais de ensinar esta virtude aos filhos! Em suas mãos está o que haja sociedades justas e pacíficas. Fonte: ACI Digital DIA 01/08/2013 DIA NACIONAL DA PAZ A COMUNIDADE DOS FILHOS DE MARIA SE REUNE PARA REZAR PELA PAZ NAS FAMILÍAS, NOS BAIRROS, EM CIDADES DESTE PAÍS QUE VIVEM MOMENTOS INTENSSOS DE GUERRA ATÉ MESMO DENTRO DE NOSSAS PARÓQUIAS. VOCÉ ESTA CONVIDADO PARA REZAR E ORAR CONOSCO PELA PAZ, AS 19h SANTO TERÇO E PARALITURGIA EM SEGUIDA TEREMOS A 4ºTRADICIONAL CAMINHADA DA PAZ. PARTICIPE ESPIRITUALMENTE REZANDO CONOSCO NO MESMO HORARIO PELO MENOS UM PAI-NOSSO E UMA AVE-MARIA!!! OBRIGADO!!!!

"Não vos Conformeis com este Mundo!"

Marcelo e Tarsiana Vocacionados da Missão de Macaé/RJ "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito." (Rm 12, 2). Certa noite de sexta-feira, vinha eu da Santa Missa e de uma bela Adoração ao Santíssimo Sacramento na minha paróquia, em Cabo Frio (nesses meses de férias a cidade fica lotada de turistas de toda parte do Brasil). Pois bem, ao sair da igreja, ia caminhando para minha casa quando me deparei com algo que me chamou a atenção. Parei na rua para ouvir de onde vinha aquela música tão alta (O funk do tigrão), e, para minha surpresa, vi que ela vinha de um trenzinho que faz passeios pela cidade e que costuma estar lotado de crianças acompanhadas dos pais e avós. Fiquei sem entender ainda mais quando personagens de desenhos animados (personagens infantis) que passeiam junto do trenzinho e que costumam fazer parte da vida dos nossos filhos através de gibis e filmes, dançavam freneticamente aquele funk. Questionou-me também ver pais, mães e avôs diante de tudo aquilo, paralisados como num efeito hipnótico. Um passeio turístico cercado de falsos valores que através de músicas e danças apelativas e pornográficas vão sufocando a nossa consciência, impedindo-nos de discernir o certo do errado. Ao chegar em casa, partilhei com a minha esposa esse acontecimento e fiquei pensando sobre a educação dos nossos filhos e por que muitas vezes acabávamos aceitando tudo tão tranqüilamente. Quantos batizados estavam naquele trenzinho? E nenhum deles pediu para trocar aquela música. Eu e Tarsiana, minha esposa, temos três filhos, Melissa de 6 anos, Sávio de 2 e Saulo de 26 dias de nascido; durante a madrugada, acordei para ajudar a minha esposa a colocar o nosso pequeno Saulo para dormir; acabei perdendo o sono e assim aproveitei o silêncio da madrugada para fazer o meu estudo bíblico, Alfa e Ômega - Novo Testamento. Estava estudando a carta de Romanos e, ao me deparar com a Lectio daquele dia, fiquei entusiasmado com a meditação e a oração que Deus estava me conduzindo naquela madrugada. "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito." (Rm 12, 2). Ali estava a resposta que Deus queria me dar. Nesse versículo, São Paulo nos dá todo o entendimento para transformar a nossa família, trabalho e comunidade e o mundo, mas tudo começa com a renovação do nosso espírito, pois, se não houver essa transformação, vamos passando pelo mundo sem questionar nada, achamos tudo legal, pois todo mundo acha assim. Só podemos sair dessa acomodação espiritual quando estudarmos e orarmos com a Palavra de Deus, quando lermos bons livros de espiritualidade que nos ensinem e nos ajudem a viver a santidade. Experiências como a que tive, acabam mexendo com o nosso interior, abrindo a nossa mente e o nosso coração para começarmos a questionar os valores que estamos vivendo. No mundo, é preciso a cada dia nos esforçar para não termos uma falsa impressão de que está tudo bem, pois existem muitos convencidos de que Jesus é o Senhor, mas poucos convertidos ao seu Senhorio. Shalom !!!

Papa João Paulo II

BEATO JOÃO PAULO II ROGAI POR NÓS!!!

Eucaristia: o Corpo do Senhor!!!

Papa João Paulo II Homilia por ocasião da solenidade de Corpus Christi em 22 de junho de 2000 A instituição da Eucaristia, o sacrifício de Melquisedec e a multiplicação dos pães: é este o sugestivo tripé que nos apresenta a liturgia da Palavra na hodierna solenidade do Corpus Christi. Instituição da Eucaristia No centro, a instituição da Eucaristia. Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo evocou com palavras específicas este evento, acrescentando: "Sempre que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha" (1Cor 11,26). "Sempre", portanto também hoje, nós, ao celebrarmos a
Eucaristia, anunciamos a morte redentora de Cristo e reavivamos no nosso coração a esperança do encontro definitivo com Ele. Conscientes disto, após a consagração, como que respondendo ao convite do Apóstolo, proclamamos: "Anunciamos a vossa morte, Senhor, e proclamamos a vossa ressurreição, enquanto aguardamos a vossa vinda". Sacrifício de Melquisedec A primeira narração, brevíssima mas de grande relevo, tirada do livro do Gênesis, fala-nos de Melquisedec, "rei de Salém" e "sacerdote do Deus altíssimo", o qual abençoou Abraão e "ofereceu pão e vinho" (Gn 14,18). A esta passagem faz referência o Salmo 109, que atribui ao Rei-Messias um singular caráter sacerdotal por direta investidura de Deus: "Tu és sacerdote para sempre / segundo a ordem de Melquisedec" (v. 4). Na vigília da sua morte na cruz, Cristo instituiu no Cenáculo a Eucaristia. Também Ele ofereceu pão e vinho, que "nas suas mãos santas e veneráveis" (Cânone Romano) se tornaram o seu Corpo e o seu Sangue, oferecidos em sacrifício. Deste modo, Ele cumpria a profecia da antiga aliança, ligada à oferenda sacrifical de Melquisedec. Precisamente por isso recorda a Carta aos Hebreus: "Ele... tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec" (5,7-10). No Cenáculo é antecipado o sacrifício do Gólgota: a morte na cruz do Verbo Encarnado, Cordeiro imolado por nós, Cordeiro que tira os pecados do mundo. Na dor de Cristo é remida a dor de todo homem; no seu sofrimento é o sofrimento humano que adquire um valor novo; na sua morte é vencida para sempre a nossa morte. Multiplicação dos pães Fixemos agora o olhar na narração evangélica da multiplicação dos pães que completa o tripé eucarístico, hoje proposto à nossa atenção. No contexto litúrgico do Corpus Christi, este trecho do evangelista Lucas ajuda-nos a compreender melhor o dom e o mistério da Eucaristia. Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos Apóstolos, para que os distribuíssem ao povo (cf. Lc 9,16). Todos, observa São Lucas, comeram e ficaram saciados e ainda encheram dozes cestos de fragmentos que sobraram (cf. ibid., v. 17). Trata-se dum prodígio surpreendente, que constitui como que o início de um longo processo histórico: o constante multiplicar-se, na Igreja, do Pão da vida nova para os homens de toda raça e cultura. Este ministério sacramental foi confiado aos Apóstolos e aos seus sucessores. E eles, fiéis à recomendação do divino Mestre, não cessam de partir e de distribuir o Pão eucarístico de geração em geração. O Povo de Deus recebe-o com devota participação. Deste Pão de vida, remédio de imortalidade, nutriram-se inúmeros santos e mártires, haurindo dele a força para resistir também a duras e prolongadas tribulações. Eles acreditaram nas palavras que um dia Jesus pronunciou em Cafarnaum: "Eu sou o pão vivo, descido do céu. Se alguém comer deste pão, viverá eternamente" (Jo 6,51). Cristo quis unir a sua presença salvífica no mundo e na história ao sacramento da Eucaristia. "Eu sou o pão vivo, descido do céu!" Depois de termos contemplado o extraordinário "tripé" eucarístico, constituído pelas leituras hodiernas, fixemos agora os olhos do espírito diretamente no mistério. Jesus define-se "o Pão da vida", e acrescenta: "O pão que hei de dar é a minha carne pela vida do mundo" (Jo 6,51). Mistério da nossa salvação! Cristo - único Senhor ontem, hoje e sempre - quis unir a sua presença salvífica no mundo e na história ao sacramento da Eucaristia. Quis fazer-se pão partido, para que todo homem pudesse nutrir-se da sua própria vida, mediante a participação no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. Assim como os discípulos, que escutaram admirados o seu discurso em Cafarnaum, também nós percebemos que esta linguagem não é fácil de ser entendida (cf. Jo 6,60). Poderíamos às vezes ser tentados a dar-lhe uma interpretação relativa. Mas isto levar-nos-ia para longe de Cristo, como aconteceu àqueles discípulos que "a partir de então já não andavam com Ele" (Jo 6,66). Nós queremos ficar com Cristo e, por isso, dizemos-lhe com Pedro: "Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,68). Com a mesma convicção de Pedro, ajoelhamo-nos hoje diante do sacramento do altar e renovamos a nossa profissão de fé na presença real de Cristo. Este é o significado da celebração hodierna... É este também o sentido da solene procissão que, como todos os anos, logo mais se deslocará desta praça até a Basílica de Santa Maria Maior. Com humilde honra acompanharemos o sacramento Eucarístico ao longo das ruas da cidade, ao lado dos edifícios onde o povo vive, se alegra, sofre; no meio dos negócios e escritórios nos quais se desenvolve a atividade cotidiana. Levá-lo-emos ao contato com a nossa vida insidiada por mil perigos, oprimida por preocupações e sofrimentos, submetida ao lento mas inexorável desgaste do tempo. Levá-lo-emos, fazendo chegar-lhe a homenagem dos nossos cânticos e súplicas: "Bom Pastor, verdadeiro pão, dir-lhe-emos com confiança, ó Jesus, tende piedade de nós / nutri-nos e defendei-nos / levai-nos aos bens eternos. Vós que tudo sabeis e podeis / que nos nutris sobre a terra / conduzi os vossos irmãos / à mesa do céu / na alegria dos vossos santos".

O que a Igreja pensa sobre homossexualidade?

Isabela Maria de Sales Sobretudo desde quando foi realizada, em Buenos Aires, a primeira união civil argentina e latino-americana entre dois homens, o tema do “casamento entre homossexuais” tem ocupado muito espaço na mídia brasileira. Um aspecto que tem sido colocado em evidência é o posicionamento da Igreja, especialmente no que foi manifestado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, através do documento “Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais”, do dia 3 de junho deste ano. Pinçando algumas idéias isoladas e descontextualizadas, os jornais têm publicado uma visão parcial acerca do que pensa e diz a Igreja sobre isso. Tem até mesmo incitado a opinião pública contra a Igreja, lançando sobre ela uma imagem de preconceito e “perseguição” contra os homossexuais. Porém, o eixo central do documento trata, exatamente, de esclarecer o que vem a ser o matrimônio: “Nenhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente, que através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas. Assim se aperfeiçoam mutuamente para colaborar com Deus na geração e educação de novas vidas” (n. 2). O documento prossegue: “o matrimônio é instituído pelo Criador como forma de vida em que se realiza aquela comunhão de pessoas que requer o exercício da faculdade sexual. ‘Por isso, o homem deixará o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher e os dois tornar-se-ão uma só carne’ (Gn 2,24). (...) Deus quis dar à união do homem e da mulher uma participação especial na sua obra criadora. Por isso, abençoou o homem e a mulher com as palavras: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos’ (Gn 1,28). No plano do Criador, a complementaridade dos sexos e a fecundidade pertencem, portanto, à própria natureza da instituição do matrimônio” (n. 3). Em virtude disso é que a união entre pessoas do mesmo sexo não deve se constituir matrimônio, logo, não deve ser legalizada. Mas a postura com relação aos homossexuais continua a mesma que a Igreja sempre pregou. O documento, no parágrafo 4, diz: “os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação. Essas pessoas, por outro lado, são chamadas, como os demais cristãos, a viver a castidade. A inclinação homossexual é, todavia, objetivamente desordenada e as práticas homossexuais são pecados gravemente contrários à castidade”. O que isso quer dizer? O Frei Antônio Moser explica: “Você pode ter tendência ao álcool e por isso nunca põe álcool na boca. Assim a pessoa pode ter tendência, mas nunca vai praticar atos homossexuais”. O Papa João Paulo II, diversas vezes, referiu-se aos homossexuais como pessoas amadas por Deus. Há cerca de 10 anos, quando esteve em São Francisco da Califórnia, nos Estados Unidos, disse-lhes: “Deus vos ama. E Deus vos ama infinitamente”. No Catecismo da Igreja Católica consta: “Um número não desprezível de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza (...) Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição” (n. 2358). Portanto, nossa obrigação como católicos é reconhecer as pessoas homossexuais como filhas de Deus e respeitá-las. Entretanto – finalizando com o que diz o Cardeal Ratzinger – “o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo algum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais” (n. 11).

O que significa ser missionário para o Reino de Deus?

Pe. Faustin, Diocese do Congo (África) Formação proferida na Comunidade Shalom. Mantido o tom coloquial Podemos imaginar o começo da Igreja. Os apóstolos estavam certamente reunidos com Nossa Senhora, depois da morte e da ressurreição do Senhor, e eles se perguntavam se aquele era o começo do Reino de Deus. Naquele momento, o que eles pensavam sobre o Reino de Deus era uma concepção nova acerca do mundo, uma concepção nova sobre a vida cristã. E o Senhor alerta: “Não cabe a vocês saber quando começa e quando termina esse Reino, mas vocês têm a missão de proclamar em todos os lugares da Terra que o Reino de Deus está implantado, que ele começou”. E eu imagino que agora, dois mil anos depois, cada um de nós pode perguntar: “É agora, Senhor, que tu vais implantar o Reino dos céus?”. E o Senhor responde mais uma vez que não cabe a nós conhecer quando começa e quando acaba esse Reino. Mas nós também recebemos a missão de proclamar até os confins da terra que o Reino dos céus chegou. E lembremos o que o Senhor nos diz: “Eu estarei convosco até o fim dos tempos”. Irmãos e irmãs, é essa a missão que o Senhor dá a cada um de nós hoje. Ainda hoje o Senhor conta com cada um que está aqui e o envia como missionário para anunciar o Reino de Deus. Essa é uma grande responsabilidade que o Senhor coloca nas nossas mãos. O que significa ser missionário para o Reino de Deus? Antes de qualquer coisa, é ter o coração cheio de amor a Deus e aos irmãos. Aquele que não se enche dessa graça dada pelo amor de Deus não tem como pregar o Reino para os seus irmãos e irmãs. Significa dar-se totalmente pelo Reino de Deus. Ser missionário significa também desprender-se de tudo e de todos, de todas as seguranças e viver somente para o Reino e para o seu anúncio. Alguns de nós tiveram a graça de ir em missão para outro país, outros receberam a graça de ir para outra cidade, mas a maioria de nós é chamado a ser missionário de uma maneira diferente, na própria cidade. É possível ser missionário no próprio país, na própria cidade, na própria família. Eu posso até desejar pregar o Reino de Deus muito longe, mas se esse amor apostólico não existe na minha vida cotidiana, com a minha família, se ele não queima em meu coração para evangelizar a minha família, será muito difícil que ele queime para que eu vá anunciar o Reino de Deus fora. É necessário que a cada dia eu me alimente de Cristo e dele viva, para que, também a cada dia, eu possa anunciá-lo ao outro. Toda missão verdadeira começa dentro de mim mesmo, do meu relacionamento com Deus, do meu amor com Deus, da minha intimidade com Ele. É por isso que Santo Agostinho diz: “Senhor, eu te procurei tão longe e não te encontrei, vim te encontrar aqui mesmo, dentro de mim”. Meus irmãos e irmãs, essa preparação interior é indispensável, porque se eu não encontrei Deus em mim mesmo, se não tenho a riqueza de Deus no meu coração, não terei nada para dar aos outros. Essa profundidade interior, essa vida espiritual profunda é um dom do Espírito Santo, é uma graça que nós devemos pedir para que possamos ir anunciar o Evangelho aos nossos irmãos. E é por isso que o papa João Paulo II repete inúmeras vezes que a qualidade da fé do terceiro milênio depende da fé e da santidade daqueles que anunciam, que são apóstolos. Para que seja possível a santidade no terceiro milênio, o Santo Padre conta com a santidade daqueles que anunciam a Palavra de Deus. Porque, somente tendo anunciadores santos, teremos um tempo novo de santidade. Então, quando nós caminharmos nessa santidade e anunciarmos a Palavra de Deus nesse espírito de santidade, poderemos entrar no terceiro milênio dizendo: “Nós fizemos somente aquilo que é a vontade de Deus”. Na missão, não podemos esperar nada de Deus. Jamais poderemos dizer: “Olha, Senhor, o que eu fiz por ti; agora me dá o retorno”. Ser missionário é trabalhar sem esperar retorno, como o servo inútil que se colocou a serviço do Senhor sem esperar recompensa. Então, vocês sabem que nós somos apóstolos da Palavra de Deus e podemos anunciá-la na nossa cidade, na nossa família, mas podemos também ser enviados para anunciá-la fora, se assim o Senhor o desejar. E que este Senhor, que hoje nos envia, sempre nos acompanhe. Se nós tivermos a consciência de que o Senhor nos acompanha, a nossa missão não será bloqueada por nenhuma dificuldade. Com a graça e a ajuda do Santo Espírito nós poderemos, apesar das dificuldades, continuar o anúncio do Cristo. Orem, orem sempre. Porque a nossa força vem sempre da oração. E que o Senhor nos abençoe e nos dê a força de anunciar o seu Filho, que é o mesmo ontem, hoje, amanhã e pelos séculos dos séculos. Quando vocês se reunirem, lembrem-se de fazer uma pequena oração também pela África, porque o Deus que nos criou quer que todos sejamos um só em seu Filho. E lá onde está o Filho, que é imagem de Deus, aí também deve estar o nosso pensamento

“Não existe Vida Comunitária se não existir Corações Orantes"

A Comunidade é um Dom de Deus. Não existe vida comunitária se não existirem corações orantes, se não existirem homens e mulheres de vida de oração. Podemos buscar os subsídios para falar de oração na própria vida de Jesus. Jesus continuamente tirava largos tempos da sua vida para estar diante do Pai, para escutar a vontade do Pai, para estar na companhia do Pai. Quando examinamos o Evangelho e, principalmente, o Evangelho de São Lucas, nós vamos ver uma inversão da imagem que geralmente nós temos de Jesus. A imagem que geralmente nós temos de Jesus é como aquele que age, que faz. Porém, no Evangelho de Lucas nós vamos ver que Jesus continuamente está buscando o Pai em oração, e continuamente está mergulhado na oração é que realiza a vontade do Pai, e faz muitas coisas. Jesus ora, e por isso, faz. Ele busca continuamente a vontade do Pai em oração, e por isto põe em prática a vontade do Pai. Quando fazemos uma leitura atenta do Evangelho, percebemos mais um Jesus contemplativo, um Jesus orante, que justamente porque contemplava e orava realizava a vontade do Pai e fazia muitas coisas, do que um Jesus que fazia muitas coisas e também rezava. Se nós formos fazer uma leitura atenta do Evangelho, vamos ver que Jesus dava primazia à oração. Grande parte do seu tempo, era dedicado ao encontro com o Pai e, por causa disso, transbordava a sua vida, e que porque orava, fazia muitas coisas e realizava a vontade do Pai no meio dos homens e no mundo. Devemos aprender com Jesus a ser homens e mulheres orantes, e aprender a rezar com Jesus. No Evangelho de Lucas 3,21-22, temos que: "Ora, ao ser batizado todo o povo. Jesus também ele rezava. Então, o céu se abriu, o Espírito Santo desceu sobre Ele sob uma aparência corporal como uma pomba e uma voz veio do céu: "Tu és o Meu Filho, eu hoje te gerei". Essa passagem abre a vida pública de Jesus, marca o início da sua missão. Jesus vai em busca de João Batista, porque " É necessário que se cumpram as Escrituras". Quando ouvimos falar do Batismo de Jesus geralmente imaginamos João Batista derramando a água sobre a cabeça de Jesus para em seguida o Espírito Santo vir do céu, como se João Batista atraísse esta manifestação na vida de Jesus. Mas o ato que abre o céu é a oração de Jesus. Por esta razão é que o Espírito Santo vem sobre Ele e a voz do Pai: " Este é meu filho amado, sobre ele, eu coloco toda a minha afeição". O Espírito Santo só vem sobre nós e a voz do Pai ressoa em nosso coração pela oração. É a oração de Jesus que atrai o Espírito Santo e abre os nossos ouvidos para ouvir a voz do Pai. É o próprio Jesus que nos ensina! Só orando nele, por Ele e com Ele que podemos atrair o Espírito Santo. Não pode haver vida cristã sem o Espírito Santo, não podemos ser transformados ou conformados a Cristo sem o Espírito. O Espírito Santo não atuará em sua vida se não for por meio da oração, ela nos faz usufruir do poder que existe nos Sacramentos. Os Sacramentos continuam eficazes por si mesmos, mas não são frutuosos se não usufruímos da graça que nós recebemos. É a oração que nos faz usufruir das graças da abertura do céu. É a oração que faz com que nós sejamos cheios do Espírito Santo. Jesus antes de começar a sua missão, antes de fazer qualquer coisa, orou, suplicou, foi para diante do Pai. Ao orar, o céu se abriu e foi ungido pelo Espírito Santo para realizar a Sua missão. Também nós, não seremos nada, não faremos nada, se isso tudo não for gerado dentro de nós pela oração. Por isso, nossa ação será infrutífera, nossa vida não será transformada e as graças que nós recebemos pelos sacramentos não serão frutuosas em nós se não rogarmos, se não sedimentarmos pela vida de oração, não podemos ser verdadeiramente cristãos. Nós não seremos ungidos para pregar, para agir, para viver o nosso dia a dia, porque nós não ouviremos e nem faremos a vontade do Pai. Por isso, Jesus nos dá esse grande e primeiro ensino. Se o céu está fechado na sua vida irmão, é porque você não está orando, não está se colocando de joelhos diariamente diante de Deus, ainda não deixou que Deus fizesse de você um homem ou uma mulher de oração. A oração atrai o Espírito Santo! Se você não se sente cheio e pleno do Espírito, se você não percebe que Ele é o condutor da sua vida, é porque falta a oração. A oração atrai o Espírito Santo, faz com que Ele venha nos envolver e nos conduzir, nos dirigindo e nos fazendo viver a vida no Espírito. Se você não consegue escutar a vontade do Pai para a sua vida, se você não sabe discerni-la, é porque falta a oração. É pela oração que a voz de Deus se manifesta na nossa vida. Eu convido agora você a fechar os olhos por um momento e silenciar diante da presença de Deus, diante do Espírito Santo que habita no seu coração, pedindo que venha ser a força do Alto que retira você de si mesmo e lhe remete para Deus e para os seus irmãos. Foi para isso que você foi criado: para o outro. Peça ao Espírito Santo que venha sobre você. Ele é o filho de Deus, e, mesmo assim, precisou orar. Dedicou um largo tempo à oração. Talvez você possa até questionar: “Eu não preciso rezar, pois a minha vida já é uma vida de oração”. Desculpe! Tal atitude pode ser considerada como hipocrisia e mentira. Desculpe, mas essa é a única verdade! A sua vida precisa ser uma vida de oração. Sua vida só pode ser uma vida de oração se você tiver oração dentro da sua vida, senão, ela não será, verdadeiramente, uma vida de oração. Ainda assim, você pode levantar a questão: “Mas eu já sou ocupado demais”. Ninguém é ocupado demais para não dar tempo para Deus. Madre Teresa de Calcutá e suas irmãzinhas tinham duas horas de oração diária. Além disso, precisavam cuidar de muitos doentes. Tinham milhares e milhares de pessoas moribundas, das mais pobres, além de hospitais enormes onde não havia nenhum funcionário. Elas cuidavam de tudo como voluntárias. Certa vez, chamaram a Madre e disseram: “Madre, o trabalho é muito, não está dando para a gente ter duas horas de oração”. Madre Teresa olhou para elas e disse: “O trabalho está demais. Não vamos rezar só duas horas não, vamos rezar quatro. Porque se não estão dando conta do trabalho, é porque vocês estão rezando pouco. Porque, quando oramos verdadeiramente, a graça de Deus faz multiplicar a nossa ação. Realizamos muito mais, porque realizamos pelo poder de Deus”. A partir daquele tempo, as irmãzinhas não rezaram mais só duas horas, mas rezaram quatro horas por dia e tudo deu tranqüilamente. Elas se tornaram muito mais capazes. Podemos examinar ainda outra passagem: Lc 4, 1-2. “Jesus, repleto do Espírito Santo, voltou do Jordão e estava no deserto conduzido pelo Espírito, durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo”. Alguém indo para o deserto ou subindo a montanha, significa alguém que procura a oração. Na Sagrada Escritura, o deserto é um lugar de encontro com Deus, assim como a montanha, indicam locais privilegiados para falar do orante que deseja Deus, são locais de oração. Para atrairmos o Espírito Santo precisamos de oração. A oração atrai o Espírito Santo e o Ele conduz à oração. O Espírito Santo leva Jesus para o deserto, leva-o para a oração. É incompreensível que alguém possa considerar-se conduzido pelo Espírito se considera desnecessário rezar. O Espírito sempre leva a oração! Quando estamos repletos do Espírito Santo, Ele nos conduz a oração e, conseqüentemente, a vida de oração. Conduzido ao deserto, Jesus é tentado pelo diabo: “(…) Conduzido pelo Espírito, durante quarenta dias, e era tentado pelo Diabo”. Quando nós nos decidimos pela oração, decidimos por encontrarmo-nos com Deus, e sermos homens e mulheres de oração. No entanto, sempre encontramos no meio do caminho o diabo, porque, ele é aquele que se opõe ao nosso encontro com Deus. Ele inventa e põe questionamentos na nossa cabeça para que nós não nos dediquemos a oração. Santa Teresa D’Ávila, doutora da Igreja, dizia uma coisa muito importante: “O homem e a mulher que vivem de oração já venceram o diabo”. Se pudesse, subia no mais alto monte do mundo, a mais alta montanha e gritava aos homens: “Orem! Orem!” O inferno inteiro se mobiliza quando ele vê um homem ou uma mulher que se decide a ser um homem ou uma mulher de oração com o intento de demovê-lo dessa decisão, pois o inferno inteiro sabe que aquele que ora já está perdido para ele. Mas, porque é tão difícil ter uma vida de oração? O mundo inteiro se levanta para que você não seja um homem ou uma mulher de oração. A oração é um combate, como o próprio Jesus conduzido pelo Espírito foi para o deserto e o demônio se colocou lá para combater contra ele. Por isso, a oração é um combate, mas pelo poder do Espírito somos mais do que vencedores. O demônio vai combater nos pontos mais frágeis do homem que deseja rezar, com raciocínios, idéias e justificativas. O demônio tentou Jesus por meio de Palavras do próprio Deus. Ele utilizou palavras das próprias Escrituras e as deformou. Ele usa a Palavra de Deus, mas não da forma como Deus quer, as usa de uma maneira deformada: “Se tu és o Filho de Deus, ordena que está pedra se transforme em pão. Jesus lhe respondeu: ‘está escrito, não só de pão viverá o homem’”. Na última tentação ele diz: “Se és filho de Deus, joga-te daqui para baixo; pois está escrito: Ele dará a teu respeito ordem a seus anjos de te guardarem, e ainda: eles te carregarão nas mãos para que não contundas o pé em alguma pedra. Jesus lhe respondeu: ‘está escrito: não porás à prova o Senhor teu Deus’”. Desde a primeira tentação, o demônio usa e deforma a própria palavra de Deus e, muitas vezes, é o que vai acontecer na nossa vida. Nós devemos enfrentar a tentação orando mais intensamente e usando o poder da própria Palavra de Deus aplicada no seu sentido correto, como o próprio Jesus o fez com o maligno. Assim nós venceremos a tentação. A oração é um caminho de alto conhecimento. Jesus, no deserto, vai mostrar os grandes pecados que afligem a vida do homem: o poder, o possuir e o prazer. A oração vai nos mostrar o que está desconforme na nossa vida e nos dará a força de vencer, por isso, também muitos de nós fugimos da oração. Quanto mais nós oramos, mais permitimos que a luz de Deus brilhe sobre nós. A luz de Deus, brilhando sobre nós, faz aparecer as nossas manchas; nossas feridas; nossos pecados. Não suportamos, muitas vezes, olhar para esta realidade e preferimos não rezar. Preferimos não orar para não nos conhecermos e, desta forma, para não deixar Deus mexer em nossa vida. Mas quando deixamos Deus mexer até aonde não queremos que Ele mexa, Ele nos transforma e nos santifica. Sem oração pensamos que está tudo bem, mas, na realidade, está tudo mal. Santa Teresa, que é mestra na vida de oração, diz assim: “Se você pegar um copo de vidro, chegar num rio e enchê-lo com a água, se este for um lugar que não tenha a luz, ao olhar para água do copo poderá dizer: “Esta água está boa, ela está limpa”. Mas, se você pegar esse mesmo copo e colocá-lo diante da luz do sol, vai perceber que aquela água está cheia de impurezas. Se Tereza vivesse no nosso tempo, diria: “Se você pegar esta água e colocá-la na luz de um microscópio, vai assustar-se ao ver quantas impurezas tem esta água”. Assim é nossa vida que, longe de oração, é como aquela água: nas trevas parece estar limpa, mas quando bebe vai se gerando vermes que destroem todo o nosso ser. Quando, pela oração, colocamos nossa vida à luz de Deus vamos percebendo as impurezas da nossa vida e assim teremos condições de sermos sadios e felizes. A oração nos leva também por esse caminho, santo e único caminho de auto conhecimento e de transformação pela graça de Deus. Tomemos dois textos do Evangelho de Lucas que nos ensinam um pouco mais da vida de oração de Jesus: Lucas 4, 42-44: “Quando clareou o dia, ele saiu e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam; Depois, tendo-o encontrado, queriam retê-lo, para que não se afastasse deles. Mas ele lhes disse: ‘às outras cidades também é preciso eu anuncie a Boa Nova do Reinado de Deus, pois é para isso que eu fui enviado’. E ele pregava nas sinagogas da Judeia”. Lucas 5, 15-16: “Falava-se de Jesus cada vez mais, e grandes multidões se reuniram para ouvi-lo e para se fazerem curar de suas doenças. E Ele se retirava aos lugares desertos e rezava”. Essas duas passagens são significativas para nós. Jesus é aquele que ora e, por conseqüência, faz. Jesus não é aquele que não tinha tempo para a oração, mas a oração tinha a primazia em sua vida. A primeira coisa que Jesus fazia era ir para um lugar deserto, depois, Ele realizava sua missão. A segunda passagem mostra o povo afluindo para Jesus e as imensas atividades pastorais que Ele precisava realizar. Sua fama se estendendo por todas as regiões, as graves necessidades do povo doente e necessitado de libertação. Jesus curava e libertava, mas em um determinado momento despedia o povo, afim de retirar-se para orar. Vemos duas coisas inversas nessas passagens: a primeira é Jesus orando e depois dedicando-se intensamente ao povo. Todos queriam que ele permanecesse mais, porém como ele orava, sabia qual era a vontade do Pai e não se deixava engolfar pelas atividades. Ele não era levado pelas circunstâncias, era levado e conduzido pelo Espírito de Deus. Porque orava, chegava a despedir o povo mesmo no meio de clamores. Não temos desculpas. Mesmo em meio às necessidade pastorais, é necessário reservar à oração uma primazia. Exatamente por isso, temos motivo para orar. Não deve ser por causa das muitas responsabilidades que a oração deve ficar sem tempo. Pobres daqueles sobre os quais você tem responsabilidade se não lhe sobra tempo para oração. Pobre dos integrantes das comunidades que tem como pastores-coordenadores, homens ou mulheres, que são tão dedicados a eles, mas não se dedicam a Deus. Não é Deus que está sendo glorificado. O próprio filho de Deus, cuja missão era salvação de toda a humanidade, antes de qualquer coisa orava e chegava a interromper, a despedir multidões para ir em busca do Pai, da presença do Pai. Tomemos o texto de Lucas 6, 12-13: “Naqueles dias, Jesus foi a montanha para orar e passou a noite orando a Deus, depois, quando amanheceu, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, aos quais deu o nome de apóstolos”. Devemos notar nesta passagem que a oração de Jesus foi intensa: “passou a noite”. Jesus nada fazia que não tivesse sido antes ruminando pela oração diante do Pai. Tudo o que ele fazia, passava antes pelo coração do Pai. Nós não podemos tomar as nossas decisões pessoais, pastorais e comunitárias sem repassá-las diante de Deus pela oração. Corremos o perigo de realizar a nossa obra, o nosso projeto e o nosso plano, esquecendo que o projeto é de Deus, a obra é de Deus, e porque é de Deus, temos que repassá-la em oração. A nossa vida é de Deus, a obra é de Deus, a comunidade é de Deus, o grupo é de Deus e, por isso, as decisões que nós tomamos, temos que toma-las segundo a sua orientação, ao invés de simplesmente confiarmos na nossa experiência, na nossa capacidade. Lc 9, 28-33: “Ora, cerca de oito dias depois dessas palavras, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, o aspecto do seu rosto mudou a sua roupa se tornou de uma brancura fulgurante. E eis que dois homens conversavam com Ele; eram Moisés e Elias; aparecendo na glória, falavam da partida de Jesus que ia se realizar em Jerusalém. Pedro e os seus companheiros estavam acabrunhados de sono; mas, acordando, viram a glória de Jesus e os dois homens que com ele estavam. Ora, como estes se apartassem de Jesus, Pedro lhe disse: ‘Mestre, é bom que estejamos aqui; ergamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, outra para Elias’. Ele não sabia o que dizia”. Jesus foi para a montanha orar e, orando, foi transfigurado; a glória de Deus brilhou nele. Temos um grande erro na nossa vida de oração que, muitas vezes, faz desistirmos dela. Buscamos a vida de oração, simplesmente, como um meio para agradar nossas sensibilidades, quando nada sentimos às vezes nos frustramos e, não queremos mais rezar. Devemos perseverar na oração, sentindo ou não sentindo, gostando ou não gostando, com gozo ou sem gozo, porque ainda que importante, isso não é o mais importante. O mais importante é a visita de Deus, que ocorre no nosso coração e na nossa alma quando oramos. Uma transfiguração invisível ocorre dentro de nós quando rezamos, vamos nos transfigurando em Cristo. Podemos até ter, se Ele quiser, grandes surpresas na sua vida de oração, onde os seus sentimentos também gozam dessa presença de Deus, mas isso não é o mais importante, é importante, mas não o mais. O mais importante é a obra que Deus deseja realizar em nós, com sentimento ou sem sentimento. Quando rezamos nós somos curados e libertados, a glória de Deus se manifesta em nós. E nunca caiamos na tentação de sair da oração achando que nada aconteceu. Sempre que orarmos, em Espírito e em verdade, sairemos da oração um outro homem, uma outra mulher. Deus terá operado nas nossas vidas. Lc 10,38-42: “Estando eles a caminho, Jesus entrou em uma aldeia, e uma mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã chamada Maria, que, tendo se assentado aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra. Marta se afobava num serviço complicado. Ela se aproximou e disse: ‘Senhor, não te importa que a minha irmã me tenha deixado sozinha a fazer todo o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude’. O Senhor lhe respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas. Uma só é necessária, foi Maria que escolheu a melhor parte: ela não lhe será tirada’. Muitas pessoas colocam esse Evangelho como uma oposição entre a contemplação e a ação, não deve ser assim. Jesus critica Marta, mas sua crítica não era porque ela estava preocupada em servi-lo. Marta está agoniada e Maria está aos pés de Jesus. Marta usa a expressão “dize”, está mandando. Ela usa o imperativo: “dize a Maria que venha me ajudar”. Neste ponto, Jesus faz a crítica fundamental a Marta: “Marta, tu te inquietas com muitas coisas, uma só é necessária e Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”. A crítica fundamental que Jesus faz a Marta não é porque ela trabalha, é porque dá a primazia ao trabalho. Maria, no entanto, entendeu que essa primazia é da oração. Jesus mostra nessa passagem a primazia de estar com Deus para tudo fazer por Deus. Nós podemos fazer muitas coisas para Deus, isto é bom e agradável, mas se na nossa vida a primazia não for estar com Deus para depois fazer por ele. Quando nós não damos a nossa presença, o nosso ser, para Deus todo trabalho perde o sentido. Para o discípulo de Jesus a oração é uma primazia, ela vem à frente, e depois, consequentemente, vem o trabalho. É preciso realizar tudo em nome de Jesus, é necessário fazer coisas, se Marta não fizesse o almoço todos passariam fome, mas a primazia é receber o Mestre, é sentar-se aos seus pés e ouvir a sua voz, depois fazer o que ele manda. Esta é a primazia, não é fazer desesperadamente as coisas para ele e por ele sem nem saber o que ele quer. Lc 11,1: mais uma vez vemos Jesus orando: “Um dia, ele estava num lugar em oração. Quando terminou, um dos discípulos lhe disse: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como João ensinou a seus discípulos’”. O maior mestre de oração é o próprio Jesus. Quem deseja aprender a orar, deve fazer como os discípulos: voltar-se para Jesus e dizer-lhe: “Senhor, ensina-me a orar”. O mais magnífico, é que isto já é oração. Se dissermos: “eu não rezo porque não sei rezar”, façamos dessas palavras a nossa oração. Fiquemos o tempo que pudermos pedindo: “Senhor, ensina-me a orar”. Ele próprio ensinará a orar os que assim suplicarem. Jesus, pelo seu Espírito, nos ensina a orar. Rezando é que a gente aprende a rezar. Ler toda teologia mística sobre a oração pode até ajudar, mas não é suficiente. Se desejamos aprender a orar, busquemos Jesus e peçamos que Ele nos ensine, é assim que se aprende a orar. Se encontrar-mos um grupo que não reza, devemos questionar qual a vida de oração de seu coordenador-pastor Porque quando este reza as pessoas se aproximam e pedem que lhes ensine a orar. Pedem porque podem ver Jesus orando nele. O cooedenador-pastor pode dizer para elas: “você quer aprender a rezar, então, diga: Jesus, ensina-me a rezar”. Aqueles que estão ao seu redor de um homem ou uma mulher de oração, serão também atraídos por Jesus que reza nele ou nela. Verão a beleza da oração de Jesus e se sentirão atraídos, aprendendo a rezar. Mas qual é o conteúdo da oração de Jesus? O conteúdo da oração de Jesus podemos encontrar em Lc 10, 21-22: “Nessa hora, Jesus exultou sob a ação do Espírito Santo e disse: ‘eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, por teres ocultado isso aos sábios e aos inteligentes e por tê-lo revelado aos pequeninos. Sim, Pai, foi assim que tu dispusestes em tua benevolência. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece quem é o Filho a não ser o Pai, nem quem é o Pai a não ser o Filho e aquele a quem o Filho aprouver revelá-lo”. “Eu te louvo, Pai-Abba, porque sou teu filho e tu revelas isso aos corações que são simples e pequeninos”. Eis o primeiro conteúdo da oração de Jesus. O Espírito faz com que exulte de alegria no Pai. A oração de Jesus é sempre no Espírito. Chama-o Pai porque ele é o Filho, só os corações simples podem descobrir a beleza de ser Filho de Deus. A primeira dimensão do conteúdo da oração de Jesus é a alegria de ser filho de Deus, essa também deve ser a primeira dimensão do conteúdo da nossa oração. A grande descoberta do Abba, do Deus que é Pai. Abba quer dizer “papaizinho” em hebraico. Somos chamados a exultar de alegria porque Deus é nosso Pai, porque seu amor nos envolveu, porque o seu amor existe em nós, Ele nos criou, nos salvou, nos redimiu por amor. Porque somos filhos, temos confiança no nosso Pai, a nossa vida está em suas mãos. Eu confio nele, porque mesmo passando no vale de trevas, não vou temer, porque Ele é meu Pai. Eu louvo em todas as circunstâncias, em toda situação. Abba, Pai. Eis o primeiro fundamento, a primeira essência da nossa oração. Olhar para Deus, como Pai, e dizer bendito. Só ora um coração pequenino que descobriu a Deus como Pai, essa é a primeira revelação da oração. O Espírito Santo convence o nosso coração do amor e da paternidade de Deus, por isso nosso coração exulta de alegria e de confiança. Confio em ti, Aba, Meu Pai. A nossa oração se quer ser como a de Jesus, deve está envolvida pelo louvor e por esse amor a Deus Pai. Em todas as circunstâncias contemplamos a beleza infinita do que é ser Filho do Pai. Não estamos abandonados, não precisamos viver na desconfiança nem no medo. A nossa oração não pode nem deve ser desesperada, mas de confiança total e absoluta, de abandono nas mãos do Pai. Oração feliz por Ter Deus como Pai. Essa é a primeira dimensão do conteúdo da oração de Jesus. Mas há uma outra dimensão na oração de Jesus que está em Lc 22, 42-42: “Pai se quiseres afastar de mim esta taça...No entanto, não se faça a minha vontade, mas a tua! Então apareceu-lhe do céu um anjo que o fortificava”. A primeira dimensão da oração de Jesus, que vimos acima, é a dimensão de júbilo: “ Eu sou filho, sou amado por ti, fui criado por ti, fui redimido pelo teu poder. Pai, eu sou feliz. Eu confio em ti, tudo tu me deste, sou teu, tudo o que eu tenho é teu, bendito, sou feliz porque sou filho”. A segunda dimensão, que deriva justamente da primeira, é a dimensão de oferta, de entrega de vida, de doar-se inteiramente ao Pai: “ Pai faça-se a tua vontade. Cumpra-se em mim a tua vontade. Faça-se em mim. Pai”. De acordo com esta dimensão, devemos comprender que não oramos para mudar a vontade de Deus, mas para que Ele nos mude, nos adapte à sua vontade. Às vezes pensamos em rezar para mudar a vontade de Deus a nosso respeito, mas na realidade oramos para que nós mudemos, para que a graça de Deus nos mude e nos adapte à Sua vontade perfeita. Esta é a oração no Espírito, verdadeira fonte de vida e de felicidade: “Porque Deus é tão bom, porque Deus é meu Pai, eu confio tanto nele que a vontade dele é o melhor para minha vida, então, faça-se a tua vontade na minha vida, Pai, mesmo que essa vontade seja um cálice amargo, que tenha aparências de dor, mas por trás dela há amor, há vida, há felicidade. Então, faça-se em mim a tua vontade! A oração não é para mudar Deus, mas para sermos transformados, para compreendermos a beleza da paternidade de Deus e termos uma confiança absoluta na sua santa vontade, seja ela qual for, mesmo quando ela se apresente como cruz, porque e só por meio dela virá a ressurreição.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

SANTA MISSA PARA A XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

HOMILIA DO SANTO PADRE Copacabana, Rio de Janeiro Domingo, 28 de Julho de 2013 Amados irmãos e irmãs, Queridos jovens! «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude,
vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir. 1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9). Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, vão; mas disse: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem, sim; mas não nasce da vontade de domínio, da vontade de poder. Nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e não nos deu somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, Ele deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como pessoas livres, como amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor. Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor. De forma especial, queria que este mandato de Cristo -“Ide” - ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido por vocês! 2. Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias – acabamos de ouvi-lo na leitura – quando foi chamado por Deus para ser profeta: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não tenhas medo... pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco! «Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus nunca deixa ninguém sozinho! Sempre nos acompanha. Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para que vivessem isolados; chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Certamente isso lhes rejuvenesceu a todos. O jovem contagia-nos com a sua juventude. Mas esta é apenas uma etapa do caminho. Por favor, continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos! E aqui desejo agradecer cordialmente aos grupos de pastoral juvenil, aos movimentos e novas comunidades que acompanham os jovens na sua experiência de serem Igreja, tão criativos e tão audazes. Sigam em frente e não tenham medo! 3. A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais, a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço. São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: «Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível» (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se «escravo de todos». Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus. Três palavras: Ide, sem medo, para servir. Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de «extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar» (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Queridos jovens, Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Amém.

VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE
Copacabana, Rio de Janeiro Sábado, 27 de Julho de 20 Queridos jovens, Contemplando vocês que hoje estão aqui presentes, me vem à mente a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: «Francisco, vai e repara a minha casa». E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamada do Senhor para reparar sua casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja; era colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo. Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Queridos jovens, o Senhor precisa de vocês! Ele também hoje chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja e ser missionário. Hoje, queridos jovens, o Senhor lhes chama! Não em magote, mas um a um… a cada um. Escutem no coração aquilo que lhes diz. Penso que podemos aprender algo daquilo que sucedeu nestes dias: por causa do mau tempo, tivemos de suspender a realização desta Vigília no “Campus Fidei”, em Guaratiba. Não quererá porventura o Senhor dizer-nos que o verdadeiro “Campus Fidei”, o verdadeiro Campo da Fé não é um lugar geográfico, mas somos nós mesmos? Sim, é verdade! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos. E ser discípulo missionário significa saber que somos o Campo da Fé de Deus. Ora, partindo da denominação Campo da Fé, pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um discípulo missionário: a primeira imagem, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras. 1. Primeiro: o campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo lançando sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão muito fruto (cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf. Mt 13,18-23). Hoje – todos os dias, mas de forma especial hoje – Jesus semeia. Quando aceitamos a Palavra de Deus, então somos o Campo da Fé! Por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, deixem entrar a semente da Palavra de Deus, deixem que germine, deixem que cresça. Deus faz tudo, mas vocês deixem-no agir, deixem que Ele trabalhe neste crescimento! Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Creio que podemos, com honestidade, perguntar-nos: Que tipo de terreno somos, que tipo de terreno queremos ser? Quem sabe se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o Senhor, mas na nossa vida não muda nada, pois nos deixamos aturdir por tantos apelos superficiais que escutamos. Eu pergunto-lhes, mas agora não respondam, cada um responde no seu coração: Sou uma jovem, um jovem aturdido? Ou somos como o terreno pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes; diante das dificuldades, não temos a coragem de ir contra a corrente. Cada um de nós responda no seu coração: Tenho coragem ou sou um cobarde? Ou somos como o terreno com os espinhos: as coisas, as paixões negativas sufocam em nós as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Em meu coração, tenho o hábito de jogar em dois papéis: fazer bela figura com Deus e fazer bela figura com o diabo? O hábito de querer receber a semente de Jesus e, ao mesmo tempo, irrigar os espinhos e as ervas daninhas que nascem no meu coração? Hoje, porém, eu tenho a certeza que a semente pode cair em terra boa. Nos testemunhos, ouvimos como a semente caiu em terra boa. «Não, Padre, eu não sou terra boa! Sou uma calamidade, estou cheio de pedras, de espinhos, de tudo». Sim, pode suceder que à superfície seja assim, mas você liberte um pedacinho, um bocado de terra boa e deixe que caia lá a semente e verá como vai germinar. Eu sei que vocês querem ser terreno bom, cristãos de verdade; e não cristãos pela metade, nem cristãos “engomadinhos”, cujo cheiro os denuncia pois parecem cristãos mas no fundo, no fundo não fazem nada; nem cristãos de fachada, cristãos que são “pura aparência”, mas sim cristãos autênticos. Sei que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade inconsistente que se deixa arrastar pelas modas e as conveniências do momento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido. É assim ou estou enganado? É assim? Bem; se é assim, façamos uma coisa: todos, em silêncio, fixemos o olhar no coração e cada um diga a Jesus que quer receber a semente. Digam a Jesus: Vê, Jesus, as pedras que tem, vê os espinhos, vê as ervas daninhas, mas vê este pedacinho de terra que te ofereço para que entre a semente. Em silêncio, deixemos entrar a semente de Jesus. Lembrem-se deste momento, cada um sabe o nome da semente que entrou. Deixem-na crescer, e Deus cuidará dela. 2. O campo...O campo, para além de ser um lugar de sementeira, é lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que “joguemos no seu time”. A maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é paixão nacional. Sim ou não? Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Também é assim a nossa vida de discípulos do Senhor. Descrevendo os cristãos, São Paulo nos diz: «Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!» (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo superior à Copa do Mundo! Algo superior à Copa do Mundo! Jesus oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda, de uma vida feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim, na vida eterna. É o que nos oferece Jesus, mas pede para pagarmos a entrada; e a entrada é que treinemos para estar “em forma”, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé. Através do diálogo com Ele: a oração. Padre, agora vai pôr-nos todos a rezar? Porque não? Pergunto-lhes… mas respondam no seu coração, não em voz alta mas no silêncio: Eu rezo? Cada um responda. Eu falo com Jesus ou tenho medo do silêncio? Deixo que o Espírito Santo fale no meu coração? Eu pergunto a Jesus: Que queres que eu faça, que queres da minha vida? Isto é treinar-se. Perguntem a Jesus, falem com Jesus. E se cometerem um erro na vida, se tiverem uma escorregadela, se fizerem qualquer coisa de mal, não tenham medo. Jesus, vê o que eu fiz! Que devo fazer agora? Mas falem sempre com Jesus, no bem e no mal, quando fazem uma coisa boa e quando fazem uma coisa má. Não tenham medo d’Ele! Esta é a oração. E assim treinam no diálogo com Jesus, neste discipulado missionário! Através dos sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença. Através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros “atletas de Cristo”! 3. E terceiro: o campo como canteiro de obras. Aqui mesmo vimos como se pôde construir uma igreja: indo e vindo, os jovens e as jovens deram o melhor de si e construíram a Igreja. Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando “se sua a camisa” procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja. Esses jovens, essas jovens não estavam sós, mas, juntos, fizeram um caminho e construíram a Igreja; juntos, realizaram o que fez São Francisco: construir, reparar a Igreja. Eu lhes pergunto: Querem construir a Igreja? [Sim…] Se animam uns aos outros a fazê-lo? [Sim…] E amanhã terão esquecido este «sim» que disseram? [Não…] Assim gosto! Somos parte da Igreja; mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história. Jovens, por favor, não se ponham na «cauda» da história. Sejam protagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para diante, construam um mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de amor, de paz, de fraternidade, de solidariedade. Jogai sempre ao ataque! São Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos a miniatura de uma igreja, construída com pedras vivas. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; cada um de nós é uma pedra viva, é um pedacinho da construção e, quando vem a chuva, se faltar aquele pedacinho, temos infiltrações e entra a água na casa. E não construam uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim, Senhor! Também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo! Atrevem-se a repetir isto? Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo! Digam agora… [os jovens repetem]. Depois devem se lembrar que o disseram juntos. O coração de vocês, coração jovem, quer construir um mundo melhor. Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram pelas estradas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas estradas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem para outros o ser protagonistas da mudança! Vocês são aqueles que tem o futuro! Vocês… Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta mudança. Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não «olhem da sacada» a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… «Não olhem da sacada» a vida, mergulhem nela, como fez Jesus. Resta, porém, uma pergunta: Por onde começamos? A quem pedimos para iniciar isso? Por onde começamos? Uma vez perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja; queremos começar, mas por qual parede? Por onde – perguntaram a Madre Teresa – é preciso começar? Por ti e por mim: respondeu ela. Tinha vigor aquela mulher! Sabia por onde começar. Hoje eu roubo a palavra a Madre Teresa e digo também a você: Começamos? Por onde? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar. Queridos amigos, não se esqueçam: Vocês são o Campo da Fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu “sim” a Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!

ENCONTRO COM O EPISCOPADO BRASILEIRO

ENCONTRO COM O EPISCOPADO BRASILEIRO DISCURSO DO SANTO PADRE Arcebispado do Rio de Janeiro Sábado, 27 de Julho de 2013 Vídeo Queridos Irmãos! Como é bom e agradável encontrar-me aqui com vocês, Bispos do Brasil! Obrigado por terem vindo, e permitam que lhes fale como amigos, pelo que prefiro usar o castelhano, para poder expressar melhor aquilo que levo no coração. Peço-lhes que me perdoem!
Retiramo-nos um pouco, neste lugar preparado por nosso irmão Dom Orani, para estar sozinhos e poder falar de coração a coração como Pastores a quem Deus confiou o seu Rebanho. Nas ruas do Rio, jovens de todo o mundo e muitas outras multidões estão esperando por nós, necessitados de serem envolvidos pelo olhar misericordioso de Cristo Bom Pastor, que nós somos chamados a tornar presente. Por isso, gozemos deste momento de descanso, de partilha, de verdadeira fraternidade. Começando pela Presidência da Conferência Episcopal e do Arcebispo do Rio de Janeiro, quero abraçar a todos e cada um, especialmente aos Bispos eméritos. Mais do que um discurso formal, quero compartilhar algumas reflexões com vocês. A primeira veio à minha mente, quando da outra vez visitei o Santuário de Aparecida. Lá, ao pé da imagem da Imaculada Conceição, eu rezei por vocês, por suas Igrejas, por seus presbíteros, religiosos e religiosas, por seus seminaristas, pelos leigos e as suas famílias, em particular pelos jovens e os idosos, já que ambos constituem a esperança de um povo: os jovens, porque eles carregam a força, o sonho, a esperança do futuro, e os idosos, porque eles são a memória, a sabedoria de um povo.[1] 1. Aparecida: chave de leitura para a missão da Igreja Em Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe. Mas, em Aparecida, Deus deu também uma lição sobre Si mesmo, sobre o seu modo de ser e agir. Uma lição sobre a humildade que pertence a Deus como traço essencial e que está no DNA de Deus. Há algo de perene para aprender sobre Deus e sobre a Igreja, em Aparecida; um ensinamento, que nem a Igreja no Brasil nem o próprio Brasil devem esquecer. No início do evento que é Aparecida, está a busca dos pescadores pobres. Tanta fome e poucos recursos. As pessoas sempre precisam de pão. Os homens partem sempre das suas carências, mesmo hoje. Possuem um barco frágil, inadequado; têm redes decadentes, talvez mesmo danificadas, insuficientes. Primeiro, há a labuta, talvez o cansaço, pela pesca, mas o resultado é escasso: um falimento, um insucesso. Apesar dos esforços, as redes estão vazias. Depois, quando foi da vontade de Deus, comparece Ele mesmo no seu Mistério. As águas são profundas e, todavia, encerram sempre a possibilidade de Deus; e Ele chegou de surpresa, quem sabe quando já não o esperávamos. A paciência dos que esperam por Ele é sempre posta à prova. E Deus chegou de uma maneira nova, porque Deus é surpresa: uma imagem de barro frágil, escurecida pelas águas do rio, envelhecida também pelo tempo. Deus entra sempre nas vestes da pequenez. Veem então a imagem da Imaculada Conceição. Primeiro o corpo, depois a cabeça, em seguida a unificação de corpo e cabeça: a unidade. Aquilo que estava quebrado retoma a unidade. O Brasil colonial estava dividido pelo muro vergonhoso da escravatura. Nossa Senhora Aparecida se apresenta com a face negra, primeiro dividida mas depois unida, nas mãos dos pescadores. Há aqui um ensinamento que Deus quer nos oferecer. Sua beleza refletida na Mãe, concebida sem pecado original, emerge da obscuridade do rio. Em Aparecida, logo desde o início, Deus dá uma mensagem de recomposição do que está fraturado, de compactação do que está dividido. Muros, abismos, distâncias ainda hoje existentes estão destinados a desaparecer. A Igreja não pode descurar esta lição: ser instrumento de reconciliação. Os pescadores não desprezam o mistério encontrado no rio, embora seja um mistério que aparece incompleto. Não jogam fora os pedaços do mistério. Esperam a plenitude. E esta não demora a chegar. Há aqui algo de sabedoria que devemos aprender. Há pedaços de um mistério, como partes de um mosaico, que vamos encontrando. Nós queremos ver muito rápido a totalidade; e Deus, pelo contrário, Se faz ver pouco a pouco. Também a Igreja deve aprender esta expectativa. Depois, os pescadores trazem para casa o mistério. O povo simples tem sempre espaço para albergar o mistério. Talvez nós tenhamos reduzido a nossa exposição do mistério a uma explicação racional; no povo, pelo contrário, o mistério entra pelo coração. Na casa dos pobres, Deus encontra sempre lugar. Os pescadores agasalham: revestem o mistério da Virgem pescada, como se Ela tivesse frio e precisasse ser aquecida. Deus pede para ficar abrigado na parte mais quente de nós mesmos: o coração. Depois é Deus que irradia o calor de que precisamos, mas primeiro entra com o subterfúgio de quem mendiga. Os pescadores cobrem o mistério da Virgem com o manto pobre da sua fé. Chamam os vizinhos para verem a beleza encontrada; eles se reúnem à volta dela; contam as suas penas em sua presença e lhe confiam as suas causas. Permitem assim que possam implementar-se as intenções de Deus: uma graça, depois a outra; uma graça que abre para outra; uma graça que prepara outra. Gradualmente Deus vai desdobrando a humildade misteriosa de sua força. Há muito para aprender nessa atitude dos pescadores. Uma Igreja que dá espaço ao mistério de Deus; uma Igreja que alberga de tal modo em si mesma esse mistério, que ele possa encantar as pessoas, atraí-las. Somente a beleza de Deus pode atrair. O caminho de Deus é o encanto que atrai. Deus faz-se levar para casa. Ele desperta no homem o desejo de guardá-lo em sua própria vida, na própria casa, em seu coração. Ele desperta em nós o desejo de chamar os vizinhos, para dar-lhes a conhecer a sua beleza. A missão nasce precisamente dessa fascinação divina, dessa maravilha do encontro. Falamos de missão, de Igreja missionária. Penso nos pescadores que chamam seus vizinhos para verem o mistério da Virgem. Sem a simplicidade do seu comportamento, a nossa missão está fadada ao fracasso. A Igreja tem sempre a necessidade urgente de não desaprender a lição de Aparecida; não a pode esquecer. As redes da Igreja são frágeis, talvez remendadas; a barca da Igreja não tem a força dos grandes transatlânticos que cruzam os oceanos. E, contudo, Deus quer se manifestar justamente através dos nossos meios, meios pobres, porque é sempre Ele que está agindo. Queridos irmãos, o resultado do trabalho pastoral não assenta na riqueza dos recursos, mas na criatividade do amor. Fazem falta certamente a tenacidade, a fadiga, o trabalho, o planejamento, a organização, mas, antes de tudo, você deve saber que a força da Igreja não reside nela própria, mas se esconde nas águas profundas de Deus, nas quais ela é chamada a lançar as redes. Outra lição que a Igreja deve sempre lembrar é que não pode afastar-se da simplicidade; caso contrário, desaprende a linguagem do Mistério. E não só ela fica fora da porta do Mistério, mas, obviamente, não consegue entrar naqueles que pretendem da Igreja aquilo que não podem dar-se por si mesmos: Deus. Às vezes, perdemos aqueles que não nos entendem, porque desaprendemos a simplicidade, inclusive importando de fora uma racionalidade alheia ao nosso povo. Sem a gramática da simplicidade, a Igreja se priva das condições que tornam possível «pescar» Deus nas águas profundas do seu Mistério. Uma última lembrança: Aparecida surgiu em um lugar de cruzamento. A estrada que ligava Rio, a capital, com São Paulo, a província empreendedora que estava nascendo, e Minas Gerais, as minas muito cobiçadas pelas cortes europeias: uma encruzilhada do Brasil colonial. Deus aparece nos cruzamentos. A Igreja no Brasil não pode esquecer esta vocação inscrita em si mesma desde a sua primeira respiração: ser capaz de sístole e diástole, de recolher e divulgar. 2. Apreço pelo percurso da Igreja no Brasil Os Bispos de Roma tiveram sempre o Brasil e sua Igreja em seu coração. Um maravilhoso percurso foi realizado. Passou-se das 12 dioceses durante o Concílio Vaticano I para as atuais 275 circunscrições. Não teve início a expansão de um aparato governamental ou de uma empresa, mas sim o dinamismo dos «cinco pães e dois peixes» – de que fala o Evangelho – que, entrando em contato com a bondade do Pai, em mãos calejadas, tornaram-se fecundos. Hoje, queria agradecer o trabalho sem parcimônia de vocês, Pastores, em suas Igrejas. Penso nos Bispos nas florestas, subindo e descendo os rios, nas regiões semiáridas, no Pantanal, na pampa, nas selvas urbanas das megalópoles. Amem sempre, com total dedicação, o seu rebanho! Mas penso também em tantos nomes e tantas faces, que deixaram marcas indeléveis no caminho da Igreja no Brasil, fazendo palpar com a mão a grande bondade de Deus por esta Igreja[2]. Os Bispos de Roma nunca lhes deixaram sós; seguiram de perto, encorajaram, acompanharam. Nas últimas décadas, o Beato João XXIII convidou com insistência os Bispos brasileiros a prepararem o seu primeiro plano pastoral e, daquele início, cresceu uma verdadeira tradição pastoral no Brasil, que fez com que a Igreja não fosse um transatlântico à deriva, mas tivesse sempre uma bússola. O Servo de Deus Paulo VI, para além de encorajar a recepção do Concílio Vaticano II, com fidelidade mas também com traços originais (veja-se a Assembleia Geral do CELAM, em Medellín), influiu decisivamente sobre a autoconsciência da Igreja no Brasil através do Sínodo sobre a evangelização e de um texto fundamental de referência que continua atual: a Evangelii nuntiandi. O Beato João Paulo II visitou o Brasil três vezes, percorrendo-o de cabo a rabo, de norte a sul, insistindo sobre a missão pastoral da Igreja, a comunhão e participação, a preparação do Grande Jubileu, a nova evangelização. Bento XVI escolheu Aparecida para realizar a V Assembleia Geral do CELAM e isso deixou uma grande marca na Igreja de todo o Continente. A Igreja no Brasil recebeu e aplicou com originalidade o Concílio Vaticano II e o percurso realizado, embora tenha tido de superar determinadas doenças infantis, levou a uma Igreja gradualmente mais madura, aberta, generosa, missionária. Hoje estamos em um novo momento. Segundo a feliz expressão do Documento de Aparecida, não é uma época de mudança, mas uma mudança de época. Sendo assim, hoje é cada vez mais urgente nos perguntarmos: O que Deus pede a nós? A esta pergunta, queria tentar oferecer qualquer linha de resposta. 3. O ícone de Emaús como chave de leitura do presente e do futuro Antes de mais nada, não devemos ceder ao medo, de que falava o Beato John Henry Newman: «O mundo cristão está gradualmente se tornando estéril, e esgota-se como uma terra profundamente explorada que se torna areia».[3] Não devemos ceder ao desencanto, ao desânimo, às lamentações. Nós trabalhamos duro e, às vezes, nos parece acabar derrotados: apodera-se de nós o sentimento de quem tem de fazer o balanço de uma estação já perdida, olhando para aqueles que nos deixam ou já não nos consideram credíveis, relevantes. Vamos ler a esta luz, mais uma vez, o episódio de Emaús (cf. Lc 24, 13-15). Os dois discípulos escapam de Jerusalém. Eles se afastam da «nudez» de Deus. Estão escandalizados com o falimento do Messias, em quem haviam esperado e que agora aparece irremediavelmente derrotado, humilhado, mesmo após o terceiro dia (cf. vv. 17-21). O mistério difícil das pessoas que abandonam a Igreja; de pessoas que, após deixar-se iludir por outras propostas, consideram que a Igreja – a sua Jerusalém – nada mais possa lhes oferecer de significativo e importante. E assim seguem pelo caminho sozinhos, com a sua desilusão. Talvez a Igreja lhes apareça demasiado frágil, talvez demasiado longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar resposta às suas inquietações, talvez demasiado fria para com elas, talvez demasiado auto-referencial, talvez prisioneira da própria linguagem rígida, talvez lhes pareça que o mundo fez da Igreja uma relíquia do passado, insuficiente para as novas questões; talvez a Igreja tenha respostas para a infância do homem, mas não para a sua idade adulta.[4] O fato é que hoje há muitos que são como os dois discípulos de Emaús; e não apenas aqueles que buscam respostas nos novos e difusos grupos religiosos, mas também aqueles que parecem já viver sem Deus tanto em teoria como na prática. Perante esta situação, o que fazer? Faz falta uma Igreja que não tenha medo de entrar na noite deles. Precisamos de uma Igreja capaz de encontrá-los no seu caminho. Precisamos de uma Igreja capaz de inserir-se na sua conversa. Precisamos de uma Igreja que saiba dialogar com aqueles discípulos, que, fugindo de Jerusalém, vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto, com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um terreno estéril, infecundo, incapaz de gerar sentido. A globalização implacável e a intensa urbanização, frequentemente selvagem, prometeram muito. Muitos se enamoraram das suas potencialidades e, nelas, existe algo de verdadeiramente positivo, como, por exemplo, a diminuição das distâncias, a aproximação das pessoas à cultura, a difusão da informação e dos serviços. Mas, por outro lado, muitos vivem os seus efeitos negativos sem dar-se conta de quanto esses prejudicam a própria visão do homem e do mundo, gerando maior desorientação e um vazio que não conseguem explicar. Alguns destes efeitos são a confusão acerca do sentido da vida, a desintegração pessoal, a perda da experiência de pertencer a um «ninho», a carência de um lugar e de laços profundos. E, como não há quem lhes faça companhia e mostre com a própria vida o caminho verdadeiro, muitos buscaram atalhos, porque se apresenta demasiado alta a «medida» da Grande Igreja. Também existem aqueles que reconhecem o ideal do homem e de vida proposto pela Igreja, mas não têm a audácia de abraçá-lo. Pensam que este ideal seja grande demais para eles, esteja fora das suas possibilidades; a meta a alcançar é inatingível. Todavia não podem viver sem ter pelo menos alguma coisa – nem que seja uma caricatura – daquilo que é parece demasiado alto e distante. Com a desilusão no coração, partem à procura de qualquer coisa que lhes iludirá uma vez mais, ou resignam-se a uma adesão parcial que, em última análise, não consegue dar plenitude à sua vida. A grande sensação de abandono e solidão, de não pertencerem sequer a si mesmos que muitas vezes surge dessa situação, é dolorosa demais para ser silenciada. Há necessidade de desabafar, restando-lhes então a via da lamentação. Mas a própria lamentação torna-se, por sua vez, como um bumerangue que regressa e acaba aumentando a infelicidade. Ainda poucas pessoas são capazes de ouvir a dor: é preciso pelo menos anestesiá-lo. Perante este panorama, precisamos de uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir para além da simples escuta; uma Igreja, que acompanha o caminho pondo-se em viagem com as pessoas; uma Igreja capaz de decifrar a noite contida na fuga de tantos irmãos e irmãs de Jerusalém; uma Igreja que se dê conta de como as razões, pelas quais há pessoas que se afastam, contém já em si mesmas também as razões para um possível retorno, mas é necessário saber ler a totalidade com coragem. Jesus deu calor ao coração dos discípulos de Emaús. Eu gostaria que hoje nos perguntássemos todos: Somos ainda uma Igreja capaz de aquecer o coração? Uma Igreja capaz de reconduzir a Jerusalém? Capaz de acompanhar de novo a casa? Em Jerusalém, residem as nossas fontes: Escritura, Catequese, Sacramentos, Comunidade, amizade do Senhor, Maria e os Apóstolos... Somos ainda capazes de contar de tal modo essas fontes, que despertem o encanto pela sua beleza? Muitos se foram, porque lhes foi prometido algo de mais alto, algo de mais forte, algo de mais rápido. Mas haverá algo de mais alto que o amor revelado em Jerusalém? Nada é mais alto do que o abaixamento da Cruz, porque lá se atinge verdadeiramente a altura do amor! Somos ainda capazes de mostrar esta verdade para aqueles que pensam que a verdadeira altura da vida esteja em outro lugar? Porventura se conhece algo de mais forte que a força escondida na fragilidade do amor, do bem, da verdade, da beleza? A busca do que é cada vez mais rápido atrai o homem de hoje: internet rápida, carros velozes, aviões rápidos, relatórios rápidos... E, todavia, se sente uma necessidade desesperada de calma, quero dizer , de lentidão. A Igreja sabe ainda ser lenta: no tempo para ouvir, na paciência para costurar novamente e reconstruir? Ou a própria Igreja já se deixa arrastar pelo frenesi da eficiência? Recuperemos, queridos Irmãos, a calma de saber sintonizar o passo com as possibilidades dos peregrinos, com os seus ritmos de caminhada, recuperemos a capacidade de estar lhes sempre perto para permitir a eles abrirem uma brecha no desencanto que existe nos corações, para que possam entrar. Eles querem esquecer Jerusalém onde residem as suas fontes, mas assim acabarão por sentir sede. Faz falta uma Igreja ainda capaz de acompanhar o regresso a Jerusalém! Uma Igreja, que seja capaz de fazer descobrir as coisas gloriosas e estupendas que se dizem de Jerusalém, de fazer entender que ela é minha Mãe, nossa Mãe, e não somos órfãos! Nela nascemos. Onde está a nossa Jerusalém em que nascemos? No Batismo, no primeiro encontro de amor, na chamada, na vocação![5] Precisamos de uma Igreja que volte a dar calor, a inflamar o coração. Precisamos de uma Igreja capaz ainda de devolver a cidadania a muitos de seus filhos que caminham como em um êxodo. 4. Os desafios da Igreja no Brasil À luz do que eu disse, quero sublinhar alguns desafios da amada Igreja que está no Brasil. A prioridade da formação: Bispos, sacerdotes, religiosos, leigos Queridos irmãos, senão formarmos ministros capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de dialogarem com as suas ilusões e desilusões, de recompor as suas desintegrações, o que poderemos esperar para o caminho presente e futuro? Não é verdade que Deus se tenha obscurecido nelas. Aprendamos a olhar mais profundamente: falta quem lhes aqueça o coração, como sucedeu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,32). Por isso, é importante promover e cuidar uma formação qualificada que crie pessoas capazes de descer na noite sem ser invadidas pela escuridão e perder-se; capazes de ouvir a ilusão de muitos, sem se deixar seduzir; capazes de acolher as desilusões, sem desesperar-se nem precipitar na amargura; capazes de tocar a desintegração alheia, sem se deixar dissolver e decompor na sua própria identidade. Precisamos de uma solidez humana, cultural, afetiva, espiritual, doutrinal.[6] Queridos Irmãos no Episcopado, é preciso ter a coragem de levar a fundo uma revisão das estruturas de formação e preparação do clero e do laicato da Igreja que está no Brasil. Não é suficiente uma vaga prioridade da formação, nem documentos ou encontros. Faz falta a sabedoria prática de levantar estruturas duradouras de preparação em âmbito local, regional, nacional e que sejam o verdadeiro coração para o Episcopado, sem poupar forças, solicitude e assistência. A situação atual exige uma formação qualificada em todos os níveis. Vocês, Bispos, não podem delegar este dever, mas devem assumi-lo como algo de fundamental para o caminho das suas Igrejas. Colegialidade e solidariedade da Conferência Episcopal Para a Igreja no Brasil, não basta um líder nacional; precisa de uma rede de «testemunhos» regionais, que, falando a mesma linguagem, assegurem em todos os lugares, não a unanimidade, mas a verdadeira unidade na riqueza da diversidade. A comunhão é uma teia que deve ser tecida com paciência e perseverança, que vai gradualmente «aproximando os pontos» para permitir uma cobertura cada vez mais ampla e densa. Um cobertor só com poucos fios de lã não aquece. É importante lembrar Aparecida, o método de congregar a diversidade; não tanto a diversidade de ideias para produzir um documento, mas a variedade de experiências de Deus para pôr em movimento uma dinâmica vital. Os discípulos de Emaús voltaram para Jerusalém, contando a experiência que tinham feito no encontro com o Cristo Ressuscitado (cf. Lc 24, 33-35). E lá tomaram conhecimento das outras manifestações do Senhor e das experiências dos seus irmãos. A Conferência Episcopal é justamente um espaço vital para permitir tal permuta de testemunhos sobre os encontros com o Ressuscitado, no norte, no sul, no oeste... Faz falta, pois, uma progressiva valorização do elemento local e regional. Não é suficiente a burocracia central, mas é preciso fazer crescer a colegialidade e a solidariedade; será uma verdadeira riqueza para todos.[7] Estado permanente de missão e conversão pastoral Aparecida falou de estado permanente de missão[8] e da necessidade de uma conversão pastoral.[9] São dois resultados importantes daquela Assembleia para a Igreja inteira da região, e o caminho realizado no Brasil a propósito destes dois pontos é significativo. Quanto à missão, há que lembrar que a urgência deriva de sua motivação interna, isto é, trata-se de transmitir uma herança, e, quanto ao método, é decisivo lembrar que uma herança sucede como na passagem do testemunho, do bastão, na corrida de estafeta: não se joga ao ar e quem consegue apanhá-lo tem sorte, e quem não consegue fica sem nada. Para transmitir a herança é preciso entregá-la pessoalmente, tocar a pessoa para quem você quer doar, transmitir essa herança. Quanto à conversão pastoral, quero lembrar que «pastoral» nada mais é que o exercício da maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão... Por isso, faz falta uma Igreja capaz de redescobrir as entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, poucas possibilidades temos hoje de inserir-nos em um mundo de «feridos», que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor. Na missão, mesmo continental,[10] é muito importante reforçar a família, que permanece célula essencial para a sociedade e para a Igreja; os jovens, que são o rosto futuro da Igreja; as mulheres, que têm um papel fundamental na transmissão da fé e constituem uma força quotidiana que faz evoluir uma sociedade e a renova. Não reduzamos o empenho das mulheres na Igreja,; antes, pelo contrário, promovamos o seu papel ativo na comunidade eclesial. Se a Igreja perde as mulheres, na sua dimensão global e real, ela corre o risco da esterilidade. Aparecida põe em evidência também a vocação e a missão do homem na família, na Igreja e na sociedade, como pais, trabalhadores e cidadãos.[11] Tende isso em séria consideração! A função da Igreja na sociedade No âmbito da sociedade, há somente uma coisa que a Igreja pede com particular clareza: a liberdade de anunciar o Evangelho de modo integral, mesmo quando ele está em contraste com o mundo, mesmo quando vai contra a corrente, defendendo o tesouro de que é somente guardiã, e os valores dos quais não pode livremente dispor, mas que recebeu e deve ser-lhes fiel. A Igreja afirma o direito de servir o homem na sua totalidade, dizendo-lhe o que Deus revelou sobre o homem e sua realização, e ela deseja tornar presente aquele patrimônio imaterial, sem o qual a sociedade se desintegra, as cidades seriam arrasadas por seus próprios muros, abismos e barreiras. A Igreja tem o direito e o dever de manter acesa a chama da liberdade e da unidade do homem. Educação, saúde, paz social são as urgências no Brasil. A Igreja tem uma palavra a dizer sobre estes temas, porque, para responder adequadamente a esses desafios, não são suficientes soluções meramente técnicas, mas é preciso ter uma visão subjacente do homem, da sua liberdade, do seu valor, da sua abertura ao transcendente. E vocês, queridos Irmãos, não tenham medo de oferecer esta contribuição da Igreja que é para bem da sociedade inteira e de oferecer esta palavra «encarnada» também com o testemunho. A Amazônia como teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras Há um último ponto sobre o qual gostava de deter-me e que considero relevante para o caminho atual e futuro não só da Igreja no Brasil, mas também de toda a estrutura social: a Amazônia. A Igreja está na Amazônia , não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área. Penso no acolhimento que a Igreja na Amazônia oferece hoje aos imigrantes haitianos depois do terrível terremoto que devastou o seu país. Queria convidar todos a refletirem sobre o que Aparecida disse a propósito da Amazônia,[12] incluindo o forte apelo ao respeito e à salvaguarda de toda a criação que Deus confiou ao homem, não para que a explorasse rudemente, mas para que tornasse ela um jardim. No desafio pastoral que representa a Amazônia, não posso deixar de agradecer o que a Igreja no Brasil está fazendo: a Comissão Episcopal para a Amazônia, criada em 1997, já deu muitos frutos e tantas dioceses responderam pronta e generosamente ao pedido de solidariedade, enviando missionários, leigos e sacerdotes. Agradeço a Dom Jaime Chemelo, pioneiro deste trabalho, e ao Cardeal Hummes, atual presidente da Comissão. Mas eu gostava de acrescentar que deveria ser mais incentivada e relançada a obra da Igreja. Fazem falta formadores qualificados, especialmente formadores e professores de teologia, para consolidar os resultados alcançados no campo da formação de um clero autóctone, inclusive para se ter sacerdotes adaptados às condições locais e consolidar por assim dizer o «rosto amazônico» da Igreja. Nisto lhes peço, por favor, para serem corajosos, para terem parresia! No modo «porteño» [de Buenos Aires] de falar, lhes diria para serem destemidos. Queridos Irmãos, procurei oferecer-lhes fraternalmente reflexões e linhas de ação em uma Igreja como a que está no Brasil, que é um grande mosaico de pequeninas pedras, de imagens, de formas, de problemas, de desafios, mas que por isso mesmo é uma enorme riqueza. A Igreja não é jamais uniformidade, mas diversidades que se harmonizam na unidade, e isso é válido em toda a realidade eclesial. Que a Virgem Imaculada Aparecida seja a estrela que ilumina o compromisso e o caminho de vocês levarem Cristo, como Ela o fez, a cada homem e cada mulher de seu imenso país. Será Ele, como fez com os dois discípulos extraviados e desiludidos de Emaús, a aquecer o coração e a dar nova e segura esperança.

TERCEIRA TARDE DE LOUVOR COM A MÃE PURÍSSIMA!

"Nós amamos porque primeiro Deus nos amou!" (1Jo 4, 19) Abrimos o mês da Bíblia com a Terceira Tarde de Louvor com a Mãe Puríss...